Diário da Pandemia
Abril, 2020
Luzia M. Cardoso
Social isolamento,
Poucos governos bancaram.
Caem ações, quanto lamento!
Nossos mortos desdenharam.
Já cedendo à pressão,
Segue frouxa a quarentena,
Com a caneta à mão
Muito mais se apequena.
Quarentena à brasileira
Tudo pode funcionar.
Delivery, a maneira,
Com motoboy a pilotar.
O pedido no balcão
Carrega de lá para cá.
O vírus entra em ação
infestando o que dá.
Vai das mãos para o pacote,
Da máquina pr,outra mão...
Muito antes que se note,
S'infiltrou lá no pulmão.
Negociatas no alto
Com frieza sem igual.
Vidas tomam de assalto
Com projeto imoral.
Quem vive de explorar
Não suporta a quarentena,
Força o povo a trabalhar
E ao vírus o condena.
E, de bandeira na mão,
Vão gritando pela rua:
"Que s'exponha o peão,
Já que é essa a sina sua!"
Sabe aquele do Planalto
Que o povo confiou?
"30 mil nem é tão alto!"
Mais à morte ofertou.
"Não tem negociação!"
Decreta em alta voz.
Fecha a cara, pesa a mão
Larga sua sanha feroz.
No entra e sai de ministros
A saúde se esvai.
Quanto ao CID nos registros,
Quem confia no que sai?
Milhares contaminados,
Com centenas a morrer;
Hospitais abarrotados,
Pra salvar tem que escolher.
Enquanto o rabecão
Para à porta d'emergência
Para pegar o caixão
Dos privados d'existência.
Vinte e quatro de abril,
SUS está colapsando
Morreram mais de três mil,
Com mais de dois confirmando.
Cemitérios abrem covas
Às centenas, lado a lado.
Pobre gente, tantas provas!
O último adeus? Negado!
Ataúdes vão lacrados
Pras covas rasas no chão.
Pra imprensa, encastelados
Dizem não ter solução.
Do outro lado da cena,
Gauches olham de lado:
Sempre a velha cantilena
De povo alienado.
Nesse país federado,
Com capital no comando,
Mais o povo é sufocado...
Valei-nos, Deus! Até quando?
Nenhum comentário:
Postar um comentário