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Aqui trataremos de tudo aquilo que nos emociona.

A vida, em todas as suas formas e manifestações, nos leva a fortes emoções.

Espero poder traduzir, em versos e rimas, as expressões da vida com as quais eu tiver contato.



Luzia M.Cardoso
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segunda-feira, 28 de maio de 2018

Bolsa de Madame




Bolsa de Madame 




Jacaré parado 
Vira bolsa de madame.
(Ditado popular) 



Confusão se manifesta. 
Boi de carga empacou. 
Emburrado, demostrou 
Que seu lombo se infesta 
De uma carga indigesta. 
Ecoando forte brame, 
Insistia em reexame 
Do que estava amarrado. 
Porque jacaré parado 
Vira bolsa de madame! 

O cavalo não adia. 
Resolve paralisar 
E sua carga repesar. 
Pouco a pouco, entendia 
Que seu bolso s’esvazia 
Com o flagrante derrame. 
Sem dar bola pro vexame, 
Foi ficando revoltado 
Com o preço estipulado. 
Porque jacaré parado 
Vira bolsa de madame! 

O burrico, pequenino, 
Ao olhar a sua carga 
Constatou a sobrecarga. 
E se juntou ao Bovino, 
Aliado ao equino. 
Se o ônus era infame, 
Questionavam o ditame. 
Ficando os três, lado a lado. 
Porque jacaré parado 
Vira bolsa de madame! 

O transporte do volume 
Que pesava sobre o lombo 
Lhes causava um grande rombo, 
Do qual ninguém o presume, 
E com eles não assume, 
Ouvindo falso reclame 
Fortalecem o liame 
No que foi pactuado. 
Porque jacaré parado 
Vira bolsa de madame! 

Sobre o lombo, os legumes, 
Feijão, arroz, sal, açúcar... 
Tudo o que imaginar 
Carregam sem queixumes 
Diamantes e estrumes, 
Produto sem vasilhame: 
Tijolos, rolos d’arame. 
Quando frete é rebaixado, 
Couro fica esgarçado. 
Porque jacaré parado 
Vira bolsa de madame! 

Com buracos nos caminhos, 
Todos muito mal fechados, 
Se sentiam ameaçados 
Pelas flechas e espinhos, 
Pelos brancos colarinhos. 
E por mais que os difame 
E que mais ninguém se inflame, 
Querem o reivindicado. 
Porque jacaré parado 
Vira bolsa de madame! 

Lutam por condições 
Melhores para o trabalho. 
Dando as cartas do baralho, 
Estimulam adesões 
E, no topo, aflições 
De quem não quer o desmame, 
Nem a queda no tatame. 
Há, por cima, um acordado. 
Porque jacaré parado 
Vira bolsa de madame!

À esquerda, as cigarras 
Afirmando ser “lockout”, 
Temem irem à nocaute. 
Marimbondos, sem amarras, 
Estocam em algazarras. 
Uma prática infame. 
No mercado, um vexame, 
Tudo superfaturado! 
Porque jacaré parado 
Vira bolsa de madame! 

E a vida vai seguindo 
Os de cargas vão unidos, 
Outros ficam divididos 
Os direitos vão sumindo 
E o tempo se esvaindo. 
Se repassam o gravame, 
Exaurem todo o estame 
E o grupo é desonrado. 
Porque jacaré parado 
Vira bolsa de madame! 

Luzia M. Cardoso



Glossário:

Brame: rugir, dar bramidos.
Ditame: regra.
Estame: resistência, força, vigor.
Gravame: encargo, ônus.
Liame: ligação, vínculo.
Reclame: propaganda.

sábado, 26 de maio de 2018

Companheira de Pato (Cordel)



Companheira de Pato 


“Galinha qu’anda com pato 
Sempre morre afogada.” 
(Ditado popular) 



Vi um pato habilidoso, 
Lustroso e sedutor. 
Um pato executor, 
Inflamado, ardiloso, 
E muito ganancioso. 
Vi galinha alienada 
Dando de politizada,
Pronta a espalhar boato. 
“Galinha qu’anda com pato 
Sempre morre afogada.” 

Era um pato amarelo 
Que comia caviar. 
Sem querer preço pagar, 
Buscava no paralelo, 
Por um preço mais singelo. 
A galinha foi fisgada. 
A mordomias apegada, 
Caiu na cama de gato. 
“Galinha qu’anda com pato 
Sempre morre afogada.” 

Quando o pato lhe fez juras, 
A galinha o seguiu, 
Sob um céu azul anil. 
Muitas falas obscuras, 
Para intenções futuras, 
Com data estipulada. 
A galinha, enredada, 
Assinou branco contrato. 
“Galinha qu’anda com pato 
Sempre morre afogada.” 

O pato fora plantado 
Feito Cavalo de Tróia. 
Fomentava a paranoia 
Pra’o que foi financiado 
E fisgava ajumentado. 
A galinha abnegada, 
Se mantendo agachada, 
Virou útil artefato. 
“Galinha qu’anda com pato 
Sempre morre afogada.” 

E o encanto acabou. 
O que fora cobiçado 
Por aquele pato inflado, 
Ele já abocanhou 
E a galinha, abandonou. 
Muito mais apequenada, 
Não servindo pra mais nada, 
Vive às sombras, feito rato. 
“Galinha qu’anda com pato 
Sempre morre afogada.” 

Ela é vista por aí, 
A galinha mau caráter. 
Fingindo não se abater, 
Diz que vai pra Chamonix1
Mas não sai do Andaraí. 
Está mais endividada. 
Apesar de emporcalhada, 
Não se deu conta do fato. 
“Galinha qu’anda com pato 
Sempre morre afogada.”

Luzia M. Cardoso


1 - Chamonix - Cidade da França, localizada aos pés dos picos nevados.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

No Bico do Pato (cordel)



No Bico do Pato 


Eu vou contar a história
Do pato que se criou
Junto ao povo d’um país
Que um outro arrematou.
Nasceu lá no Tietê,
Por outros cantos andou. 

Um dia, todos viram
Inflado pato amarelo.
Amarelo como ouro
À porta de seu castelo.
Inchado de muito ar,
Pôs o povo no chinelo.

E o pato fez a fama,
Teve muitos seguidores:
Batedores de panelas,
Automóveis e tratores.
Teve lemas e bandeiras
E declarações de amores.

Teve pato em toda a orla.
Teve pato indo às ruas,
Teve pato pelas praças,
Teve pato sob luas...
O pato cumpria ordens.
Ordens duras, cruas, nuas.

Pelo pato se odiou.
Pelo pato ofenderam.
Pelo pato ultrajante,
Tiraram quem elegeram.
Adoradores de pato,
Aos seus pés se renderam.

A miséria aumentou,
O país andou pra trás.
Assaltos todos os dias,
Por ladrões e serviçais.
Inflação descontrolada,
Desemprego e muito mais.

Recuaram tantos anos,
Que chegaram à inquisição.
Acreditando em bruxas,
Mandingas, superstição...
Armaram a fogueira
Pra queimar oposição.

Dois anos já se passaram
E o povo não aprendeu.
Repetindo a história,
O mundo surpreendeu.
Foi miséria e inglória
Que, ao povo, o pato deu.

E o povo, subalterno,
Fica a olhar o chão.
O chão por ele aplainado,
Plantado por sua mão.
O chão, esteira da fábrica
Para o bolso do patrão.

E o povo enganado,
Na labuta intermitente,
Na jornada alongada,
No direito inexistente,
Troca seu tempo e seu sangue
Por vida de indigente.

Enquanto o povo padece,
Parasitas tudo invadem
E quem tem, busca ter mais.
Aos de fora, o que pedem.
Especulam com o produto
E em nada mais investem.


Milionários travam ruas
Quando são contrariados.
Não querem pagar impostos,
Não querem ser controlados.
“Liberdade pro mercado!”
É um de seus postulados.

Põem preço na Saúde
E, também, na Educação,
Dificultando o acesso
De quem produz todo o pão.
Vendendo a ideia do mérito,
Aumentam a exploração.

O povo vê pelos ares
Tudo por que se lutou.
Os direitos conquistados,
O golpe já derrubou
E o Estado democrático,
Logo se tiranizou.

Mas o povo se ilude,
Enaltece os d’outra classe.
Fica aflito ao espelho
E, diante do impasse,
Mostra defeitos nos seus,
Como se se elevasse.

Crê que o trabalhador
No poder vira ladrão.
Por isso, deixa ao rico
A direção da nação.
E a média quer os padrinhos
Para beijar-lhes a mão.

Foi lá, na terra brasílis
Que o pato apareceu,
Onde manda o tucano,
Que repete o que aprendeu
Com a ave de rapina,
Para quem tudo cedeu.

Luzia M. Cardoso 

Tucanos com Urubus (Triolé)






Tucanos com Urubus 



Em terras que têm tucanos,
Urubus vivem por lá.
Carniças, traçam insanos.
Em terras que têm tucanos,
Há acordos levianos,
Muito lero e blá-blá-blá.
Em terras que têm tucanos,
Urubus vivem por lá.


Luzia M. Cardoso

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Papagaio! (Triolé)


Papagaio!


Papagaio! Vejam só,
Tucanos tiram o couro,
Depenam sem sentir dó.
Papagaio! Vejam só,
Ao largo do xilindró,
Levam no bico... E ouro.
Papagaio! Vejam só,
Tucanos tiram o couro.

Luzia M. Cardoso

domingo, 20 de maio de 2018

Triolé da Abelhinha





Triolé da Abelhinha



Está zangada a abelhinha
Zumbindo a te cercar.
Já te persegue a bichinha!
Está zangada a abelhinha.
Dispara, feito flechinha,
Pronta para ferroar.
Está zangada a abelhinha
Zumbindo a te cercar.



Luzia M. Cardoso


Um poeminha para Meiry.

A Ronda



Ronda 


Ronda a Noite, invade a favela,
Apaga as luzes que há por lá.
O disparo frio dos olhos dela
Gela tudo, aqui, aí, acolá...

Se sonhos de meninos têm mil cores,
As cores se assombram com as velas...
Há cera quente escorrendo dores,
Nutrindo os enredos de novelas.

Faces se contraem à escuridão
Nas ondas que atormentam a Maré,
Que cobrem a Rocinha, Alemão...
Correntes qu’arrastam o Jacaré.

A carga cai nos guetos do Brasil
E tudo sob um céu azul anil.

Luzia M. Cardoso

domingo, 13 de maio de 2018

Mãe


Mãe


Mãe,
Ondas, rondas enervantes...
Maré, maremoto a marejar.
Faz remar, faz remar, faz remar...

Mãe,
Areia morna, escaldante...
Canto, encanto a acalmar.
Faz sonhar, faz sonhar, faz sonhar...

Mãe, 
Ar, invento penetrante...
Brisa, furacão a variar.
Faz girar, faz girar, faz girar...


Luzia M. Cardoso

sexta-feira, 11 de maio de 2018

No Andar de Cima



No Andar de Cima



É por lá, no andar de cima,
Que o silêncio fala ao cais.
Enquanto fala, ilumina
Os seus sonhos mais vitais.

Lá, entre quatro paredes,
Tão concretas quão incertas,
Tem em grades de saudades
As injúrias abjetas.

Entre cama e cadeiras,
Muitas cartas... Sempre mais:
Cores, lemas e bandeiras...

Das vigílias nas calçadas,
Ergue-se um forte do cais.
Velas ao vento içadas! 

Luzia M. Cardoso

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