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Aqui trataremos de tudo aquilo que nos emociona.

A vida, em todas as suas formas e manifestações, nos leva a fortes emoções.

Espero poder traduzir, em versos e rimas, as expressões da vida com as quais eu tiver contato.



Luzia M.Cardoso
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domingo, 26 de dezembro de 2010

O Peso da Cruz (Odir Milanez)




O PESO DA CRUZ
- Odir, de passagem -

Talvez a Vós até pareça leve
mas é pesada, ó Pai, a minha cruz!
“- Quem desse peso a reclamar se atreve,
após o peso imposto pra Jesus?”

Sou um pobre poeta que Te escreve
em meio à escuridão, temendo a luz!
“- Mas o poeta, por prazer, não deve
ser sensível ao sonho que o seduz?”

“ – O poeta não busca o sofrimento,
não procura da vida o adverso
para fazer do verso o seu lamento?”

Mas o amor, meu Pai, foi-me perverso!
Roubou-me a paz, a alma, o pensamento
e nunca mais pude escrever um verso!

JPessoa, 24.12.2010

Chagas (Luzia)




Censura (José-Augusto de Carvalho)





Censura
- José-Augusto de Carvalho -


 

Meu Pai, por caridade, olhai e vêde:
está por mitigar a minha sede!
De corpo e de alma sou o que quisestes.
Na vossa decisão não fui ouvido.

Esta ânsia de cumprir-me são as vestes
que me vestistes quando fui parido.
O livre arbítrio foi uma ironia.
No barro que moldastes me definho,

cativo na masmorra escura e fria
que me determinastes por caminho.
Quisestes-me perdido até ao fim.

Negastes-me a aurora prometida.
E nada sei de mim nem por que vim...
 
Que desvario esmaga a minha vida?

(In, Carvalho, José-Augusto. Da Humana Condição.
Portugal, São Mamede de Infesta: Edium Editores, 2008. P 37)


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Sujeito Composto

  

Sujeito Composto




Aponto a ignorância sem sossego,
gritando quando há dígrafo em tropeço.
Os diferentes, sempre os renego.
Com vocativos, trato os que conheço.

Eu faço dessa regra uma verdade,
sem ver predicado no complemento.
Nas entrelinhas, a minha vaidade,
com hífen entre o sujeito e o que acrescento.

Com letras, eu aumento a minha altura,
valorizando os superlativos
e a humildade, deixo no provérbio.

Confundo purpurinas com cultura.
Com troças, influencio adjetivos.
Pra onde me mandaram é advérbio.

Luzia M. Cardoso

Poema, foto (de grafite nos muros da Leopoldina) e edição
RJ, dezembro de 2010


Ps: Na primeira versão, o poema terminava com este verso: Termino num lugar que é advérbio.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

TELA DE PLASMA


 
 TELA DE PLASMA

De sucata fez barraco
Com chão de terra batida
O teto cobriu com saco
Já que era alma atrevida

Garantiu logo o abrigo
Pra proteção da família
Trazendo sempre consigo
O retrato de Otília

José criava sozinho
Os quatro filhos que tinha
Pois a flor de seu caminho
Feneceu numa tardinha

Com a vida parecida
Sua vizinha Maria
Foi por homens esquecida
Com barriga que crescia

Dia e noite no batente
Em altos prédios de luxo
Esgotava-se o presente
No vácuo de cada bucho

Recebiam por semana
As raspas de um fino pão
Além dum gole de cana
Não dava pra nada não

Era pouco o que comiam
Rala sopa de fubá
De farrapos se vestiam
Não havia o que calçar

As crianças enfraqueciam
E paravam de estudar
E os sonhos que eles tinham
Impossíveis de alcançar

Estava à porta a desgraça
Que rondava a frágil cria
Pois o brilho lá da praça
Era a boca que engolia

Cordão de ouro no pescoço
Tatuagem de poder
Era a fama desse moço
Que os filhos queriam ter

Logo foram recrutados
Pra indústria da tentação
Pó e pedra embalados
Com o suor de cada mão

Os garotos ascendiam
Nas drogas da vil carreira
Vendo aqueles que partiam
Alvos de mira certeira

Já as moças cobiçavam
O maioral do lugar
E tão cedo se entregavam
Deixando-se machucar

A Maré da lua cheia
Sob os pés da alva Rocinha
Arrastou tudo em cadeia
Nas malhas da carochinha

E Maria fez-se pranto
Rolando por toda Penha
Percorrendo canto a canto
Qual fumaça que se embrenha

Mas José anoiteceu
Na loucura da razão
Assistindo o sangue seu
Jorrar na televisão

Luzia
(Poema, desenho e edição) 


domingo, 28 de novembro de 2010

UM COMPLEXO AMANHECER





UM COMPLEXO AMANHECER


Vi raiar a liberdade
do complexo oprimido
pelo jugo da maldade
de um conjunto de bandido.

Vi a luxúria e a riqueza,
que vampirizou o sonho,
apesar da fortaleza,
desfazer-se em pó medonho.

Vi ações coordenadas
de muitos policiais,
junto às forças armadas,
em equipes especiais.

Vi as folhas da oliveira
estancar o sangue frio
que corrói nossa bandeira,
num movimento sombrio.

Vi o cerco da justiça
algemando a tirania.
O trabalho fez-se missa,
no rosário desse dia.

Vi os raios da esperança
invadindo tanto breu.
O sorriso de criança
no adulto floresceu.

Vi o Cristo Redentor
olhar para a triste Penha,
que em sua frágil flor
revelou ter uma senha.

Vi nas bandeiras hasteadas
o pulsar dos corações
que construíram as estradas
onde passam multidões.

Quero ver nossa patrulha
pé a pé pela cidade,
e com os olhos de vasculha,
expulsar a iniquidade.

Por Luzia

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

VIA CRUCIS



VIA CRUCIS

Vila Cruzeiro
Adeus, Maré...
Fugiu... Pois é!
Que correria,
naquele dia,
lá no Alemão.
Armas na mão.
Entrou na mata,
na coca, a prata,
e pé no chão.

Subiu o morro,
com os seus manos.
Na mão os planos:
a barricada
naquela estrada.
Não teve jogo:
ateou fogo
naquele carro,
Tirou um sarro,
fugindo logo.

Polícia avança,
ocupa o espaço
blindando o aço.
Chega à favela
pela ruela.
E o tiroteio
é sem rodeio.
É uma guerra,
em nossa terra.
Mas a que veio?

O cancro é feio.
Tráfico mata,
e em cascata.
Recruta jovens
e faz reféns.
Domina os guetos,
sobe concretos,
inventa leis,
e muitos reis
insatisfeitos.

Mas a pobreza
de tanta gente,
muito decente,
é bem cruel.
Não é cordel!
Parcos salários,
vazios armários.
A fome aumenta,
a chapa esquenta
tantos calvários.

E o que fazer
co'a frágil prole
se o cancro engole?
O chão é duro,
o sol escuro,
e a lua nega
o que a fé prega.
É tudo em vão,
só ouvem não.
Essa é a regra.

Pra piorar,
não há trabalho,
só quebra-galho.
- É o que tem!
Diz logo alguém.
Então o sonho,
já tão bisonho,
não a guia mais.
Acabou a paz...
Mundo medonho.

Luzia 







quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mercante de Sonhos (Herculano) / Lote de Sonhos (Luzia)




Mercante de sonhos

- Herculano Alencar -
 
 Eu compro o seu sonho a qualquer preço,
quer seja um sonho bom ou pesadelo.
Se há alguém disposto a vendê-lo,
eu deixo, no poema, o endereço.

Eu moro onde a saudade fez o berço 
que acolheu o filho da lembrança
de quando, ao deixar de ser criança,
o fim beijou os lábios do começo.

É só seguir os passos do poeta...
Entrar, pois que a porta fica aberta
e tudo ainda está em construção:

Encontre o arraial da fantasia,
ao lado do quintal da poesia
na rua do farol da ilusão.





Lote de Sonhos

- Luzia M. Cardoso -

Vendo-te meus sonhos, se tu os queres.
Faço bom preço em todos os que já tive.
Tem rubros e abrasados de prazeres,
daqueles que enlouquecem quem os vive.

Vendo no lote os cobertos por brumas,
tão ocultos que não os sonho mais.
Tenho os rosas que voam feito plumas,
por isso não os alcancei jamais.

Se tu quiseres todos os meus sonhos,
também os pesadelos mais medonhos,
aviso que terás que vir buscá-los.

Tua casa é longe, doem-me os calos.
Eu moro na ladeira da tristeza,
saída para o beco da incerteza.



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