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Aqui trataremos de tudo aquilo que nos emociona.

A vida, em todas as suas formas e manifestações, nos leva a fortes emoções.

Espero poder traduzir, em versos e rimas, as expressões da vida com as quais eu tiver contato.



Luzia M.Cardoso
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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

TELA DE PLASMA


 
 TELA DE PLASMA

De sucata fez barraco
Com chão de terra batida
O teto cobriu com saco
Já que era alma atrevida

Garantiu logo o abrigo
Pra proteção da família
Trazendo sempre consigo
O retrato de Otília

José criava sozinho
Os quatro filhos que tinha
Pois a flor de seu caminho
Feneceu numa tardinha

Com a vida parecida
Sua vizinha Maria
Foi por homens esquecida
Com barriga que crescia

Dia e noite no batente
Em altos prédios de luxo
Esgotava-se o presente
No vácuo de cada bucho

Recebiam por semana
As raspas de um fino pão
Além dum gole de cana
Não dava pra nada não

Era pouco o que comiam
Rala sopa de fubá
De farrapos se vestiam
Não havia o que calçar

As crianças enfraqueciam
E paravam de estudar
E os sonhos que eles tinham
Impossíveis de alcançar

Estava à porta a desgraça
Que rondava a frágil cria
Pois o brilho lá da praça
Era a boca que engolia

Cordão de ouro no pescoço
Tatuagem de poder
Era a fama desse moço
Que os filhos queriam ter

Logo foram recrutados
Pra indústria da tentação
Pó e pedra embalados
Com o suor de cada mão

Os garotos ascendiam
Nas drogas da vil carreira
Vendo aqueles que partiam
Alvos de mira certeira

Já as moças cobiçavam
O maioral do lugar
E tão cedo se entregavam
Deixando-se machucar

A Maré da lua cheia
Sob os pés da alva Rocinha
Arrastou tudo em cadeia
Nas malhas da carochinha

E Maria fez-se pranto
Rolando por toda Penha
Percorrendo canto a canto
Qual fumaça que se embrenha

Mas José anoiteceu
Na loucura da razão
Assistindo o sangue seu
Jorrar na televisão

Luzia
(Poema, desenho e edição) 


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