TELA DE PLASMA
De
sucata fez barraco
Com
chão de terra batida
O
teto cobriu com saco
Já
que era alma atrevida
Garantiu
logo o abrigo
Pra
proteção da família
Trazendo
sempre consigo
O
retrato de Otília
José
criava sozinho
Os
quatro filhos que tinha
Pois
a flor de seu caminho
Feneceu
numa tardinha
Com
a vida parecida
Sua
vizinha Maria
Foi
por homens esquecida
Com
barriga que crescia
Dia
e noite no batente
Em
altos prédios de luxo
Esgotava-se
o presente
No
vácuo de cada bucho
Recebiam
por semana
As
raspas de um fino pão
Além
dum gole de cana
Não
dava pra nada não
Era
pouco o que comiam
Rala
sopa de fubá
De
farrapos se vestiam
Não havia o que calçar
As
crianças enfraqueciam
E
paravam de estudar
E
os sonhos que eles tinham
Impossíveis
de alcançar
Estava
à porta a desgraça
Que
rondava a frágil cria
Pois
o brilho lá da praça
Era
a boca que engolia
Cordão
de ouro no pescoço
Tatuagem
de poder
Era
a fama desse moço
Que
os filhos queriam ter
Logo
foram recrutados
Pra
indústria da tentação
Pó
e pedra embalados
Com
o suor de cada mão
Os
garotos ascendiam
Nas
drogas da vil carreira
Vendo
aqueles que partiam
Alvos
de mira certeira
Já
as moças cobiçavam
O
maioral do lugar
E
tão cedo se entregavam
Deixando-se
machucar
A
Maré da lua cheia
Sob
os pés da alva Rocinha
Arrastou
tudo em cadeia
Nas
malhas da carochinha
E
Maria fez-se pranto
Rolando
por toda Penha
Percorrendo
canto a canto
Qual
fumaça que se embrenha
Mas
José anoiteceu
Na
loucura da razão
Assistindo
o sangue seu
Jorrar
na televisão
Luzia
(Poema, desenho e edição)
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