Diário da Pandemia : primeira semana de agosto
Luzia M. Cardoso
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Diário da Pandemia : primeira semana de agosto
Luzia M. Cardoso
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Tanta gente está morrendo,
Nada disso é natural.
Festas e bares fervendo.
A loucura é sem igual.
Lá se vão 60 mil
Vidas pro vírus perdidas
Nessa ganância febril
Que aqui é permitida.
Corpos vão ao sacrifício
Para a fome do mercado.
Cada dia é um suplício,
Em transporte abarrotado.
Leis têm decretos vetados,
Se tratam da proteção.
Negócios são acertados
Sem nenhuma hesitação.
As medidas de combate
À Covid-19,
Da ciência pro debate,
Ainda há quem desaprove.
Embora com taxas altas,
Flexionam a quarentena.
Corrompidas e expostas,
Vão sorrindo as hienas.
E aquela foragida
Com amigos no poder
Teve pena enfraquecida
E sem nem aparecer.
No país do laranjal,
A laranja que cair
Aponta pro vendaval
Que castelos faz ruir.
Pro povo não tem dinheiro
Pro salário, hospitais...
Mas o lucro do banqueiro
S'avoluma nos metais.
Gestantes contaminadas
Têm maior risco de morte.
Nas cadeias apinhadas,
Os presos à própria sorte
As populações indígenas
Estão mais ameaçadas:
Invasões, já a dezenas,
Deixam vírus e queimadas.
Julho, segunda quinzena,
Mortos são oitenta mil
O povo, sem quarentena,
Pro abate vai servil.
De Tomé vem o ditado
Que'é preciso ver pra crer.
Se'a morte não está ao lado,
S'aposta em não morrer.
Deixando nas mãos de Deus
Aquilo que podem fazer,
Mais contaminam os seus,
Sem buscar se precaver.
Sem previsão de vacina,
S'isolar é prevenção,
A ciência determina.
Basta de negação!
Vidas dos inumeráveis
Eram bens mais preciosos.
As mortes são evitáveis,
Os omissos, criminosos.
Com ar de normalidade,
Escolas vão reabrir
Os menores de idade
A doença vão transmitir.
Cada um passa pra três
E o vírus entra em casa.
A covid, dessa vez,
Acelera e arrasa.
Vírus solto na calçada,
Do espirro às carteiras
Logo, logo, a criançada
Contamina a merendeira.
Corre risco a vovó,
O papai do amiguinho...
O Brasil "tá" de dar dó,
Vigora o que'é mesquinho.
Com mais de noventa mil
Julho sai deixando a morte.
Triste sina, meu Brasil,
Há pranto do sul ao norte.
Luzia M. Cardoso
Diário da Pandemia: Junho
Dos hospitais de campanhaPrevistos para o Rio,Os quais ninguém acompanha,Há denúncias de desvio.Não saíram do papel,Não prestaram assistência,Enrolados em carretelPor tamanha incompetência.Em Brasília, quem diria,Fascistas aumentam o tom.Debocham da pandemia,Saudosistas do bem-bom.Dois de junho enlutado,Mortos, mais de trinta mil.O povo atordoadoNeste imenso Brasil.Hoje são quatro de junho,Mais de mil mortes por dia.Se um mostra que tem punho,Outros puxam a rebeldia.Entra e sai no ministério.Não há médico que fiqueQuando entope o cemitérioE governo mais complique.Curva vai desenfreadaCom dinheiro para o ralo,E gente desembestadaS'aglomera no embalo.Fazem festa do corona,Erguem brinde ao Covid.Se loucura vem à tona,A doença mais progride.Interino na Saúde,Indicado é general.A morte, amiúde,Se instala n'hospital.
O vírus, desembestado,
Segue Brasil a dentro.
Se'o povo não for testado,
Viraremos epicentro.
O vírus não rastreado
Segue sem nenhum controle,
Deixa o povo atordoado
Com a morte que o engole.
Entram outros militares
Pro segundo escalão.
Saúde requer pilares
De'uma outra formação.
Pois se fosse ao contrário:
Um médico no batalhãoQue num ato arbitrárioDesmontasse o pelotão,
Seria guerra perdida
Com com soldados dizimados
Nossa terra invadida
Por invasor governados.
Junho vai fechando a portaE cinquenta e nove milMortes ele já reporta,Pra tristeza do Brasil.Luzia M. Cardoso