Diário da Pandemia : primeira semana de agosto
Luzia M. Cardoso
Minimizam Pandemia
Pra tratar do réveillon,
Do Carnaval, fantasia,
Do turismo no Leblon.
Num mundo de transações
Cada vez mais virtuais,
O Brasil gasta milhões
Nos tais duzentos reais.
Pintam o lobo guará
Onde'o povo não vai ver:
Da floresta sumirá;
Na nota, poucos vão ter.
As sessões no parlamento,
Quando há, são virtuais,
Mas já dão consentimento
Às aulas presenciais.
E a tal da Cloroquina
Produzida por aqui,
Aos custos de uma mina
Com seus quilos de rubi?
Não s'importam se inócuo
No combate à covid.
Se aos bolsos for profícuo,
A ciência não decide.
O garoto propaganda,
Lá do planalto central,
Por meio de larga banda,
A promove pra geral.
Cloroquina e Anitta,
Dentro do Santo Graal,
Viram a fórmula bendita
Para o combate do mal.
As populações indígenas
Muito mais desprotegidas.
Omissões, tão obscenas,
Às ações dos genocidas.
Morreu cacique Xavana,
Das Aldeias de Xingu.
Morre cacique Aritana,
Pranto alaga ocaruçu.*
Aritana era um estadista
Para os povos de Xingu.
Cá, há ultradireitista
Pior que surucucu.
Tem ministro a conversar
Com garimpo ilegal
Qu'entra para desmatar
E aos índios fazer mal?
Mais de mil mortos por dia,
Nos mandam tocar a vida...
Vexatória ironia
E ainda alguém duvida.
Altas taxas há dois meses
Prevalecem no Brasil.
Já no tom são descorteses
Quando apontam pros cem mil
Cem mil mortos por Covid
Não afeta o coração
De quem diz ser quem decide
Os destinos da Nação.
Havia outras opções
Pr'um presente diferente
Mas, movidos por paixões,
Ergueram o pior ente.
Mas a Terra é redonda,
Segue firme a rodar.
Hoje, na crista da onda.
Amanhã, vai afundar.
Logo, vai submergir
Num buraco solitário.
Não faz nada pra luzir,
Ser das trevas, caudatário.
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* Ocaruçu, em Tupi, significa praça grande, ocara, centro da taba, terreiro central da aldeia
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https://www.terra.com.br/noticias/coronavirus/producao-de-cloroquina-coloca-bolsonaro-na-mira-da-justica,eb92420735306d97f69f1dacfd0
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