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Aqui trataremos de tudo aquilo que nos emociona.

A vida, em todas as suas formas e manifestações, nos leva a fortes emoções.

Espero poder traduzir, em versos e rimas, as expressões da vida com as quais eu tiver contato.



Luzia M.Cardoso
http://twitter.com/#!/luzia48

Direitos autorais registrados na FBN

sábado, 30 de janeiro de 2010

Sonhos


  

Sonhar, sim, sonhar!

Mais que um sonho sonhado,
um sonho realizado!
Um sonho por nós bordado,
nas geniais malhas da vida.
Torcer cada fibra sonhada
com nossas próprias mãos.
Aquelas mesmas, calejadas
pelas pedras pesadelos
que labutam nossos dias,
para serem por nós marretadas.

Sonhar, sim, sonhar!


Sonhar dias melhores
e, deles feitos,
sairmos completamente refeitos,
com a colheita de novos sonhos,
por nós eleitos.
Sonhar as noites, 
sonhar os dias...
Sem hora e sem tempo...
Do chão ao pensamento.
Tornar cada sonho um novo,
belo e possível momento.

Sonhar, sim, sonhar!


Sonhos, esperanças,
promessas, idéias
ideais, fantasias, utopias!!!!!
Todas sementes, em uma mesma sementeira,
aguardando a rega, o adubo e a poda

do trabalho do sonhador.
Só assim, e somente assim,
sonhos sementes brotam do chão,
desabrochando flores de emoção.
 
Sonhar, sim, sonhar!

Sonhar o que tiver ao redor...
Sonhar estrelas reluzentes 
das calçadas,
na beira das estradas!
Sonhemos todos ...
Sonhemos tudo...
Sonhos em ação...
Sonhemos, então!


Por Luzia (poesia, ilustração e edição)




Pois é, não resisti. Estava lendo um blog com poesias deliciosamente colhidas e, logo na entrada, deparei-me com "Sonho domado", de Thiago de Mello ... Enviei um  comentário...  Assim, nasceu esse ensaio.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Paixão






Olhando,
queremos
prazeres.
Buscando
amores,
perdemos
pudores.
Ungimos
corpos
com brasas,
profanando
almas
com chamas.
Despertando,
alucinamos
 de paixão.


Por Luzia
(Poesia, foto e edição)



Paixão é um sentimento avassalador. Perdemos a cabeça, a razão,o bom senso... Mas, viver sem paixão não tem a menor graça. Então, vivamos eternamente apaixonados!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Fantasia ou magia?






Hoje, eu encontrei um barquinho
em minha calçada atracado.
Longe do mar, muito sozinho,
náufrago num pó acinzentado.


O que faz aqui encalhado,
sobre um asfalto tão quente?
Terá sido ele arrastado
por grande e forte torrente? 


O que fez esse barquinho, 
em um subúrbio naufragar?
Perdeu ele o caminho
das brilhantes águas do mar? 


Por quais ondas ele veio?
Em quantos cais já aportou?
E por que dessa parada?
Foi amor que aqui deixou?


Um mistério há no barquinho,
que por ele foi revelado.
Fez com as palavras um joguinho,
enigma a ser decifrado. 


É mesmo um barquinho real,
por uma palmeira criado,
que de sua palha imperial, 
nos deu esse sonho encantado.


Muitas histórias ele traz,
muitas outras pode contar.
Brincando com rimas e versos,
nele você pode embarcar.


Por Luzia, ilustração e poesia.
Edição da animação: P. L.C. de Souza



Não resisti em escrever esse ensaio, ao ver algo que parecia ser um barquinho atracado em um subúrbio do Rio, distante do mar. 
Chegando perto, percebi que era a palha da sementeira da palmeira imperial, ali caída, na base de seu tronco. Pareceu-me, na hora, que a natureza queria brincar com a imaginação das pessoas que por ali passassem.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Zunzum zombeteiro!


Que zumbido mais bizarro
zunindo no meu ouvido.
De meu susto, tirou sarro,
esse metido zurzido.

Que zumbido atazanante!
Insiste em me perseguir.
Dá rasante zabumbante,
zarpa e vem me atingir.

Que zumbido zoador
resolvido a me zangar,
driblando a minha zaga,
para me azucrinar.

Que zumbido zabaneiro
zoando de lá pra cá.
Marimbondo zombeteiro
resolveu me ferroar.


Por Luzia, poesia e desenho
Edição de foto: P. L. C. de Souza



Por estranho que possa parecer, quem me inspirou nesse ensaio foi meu filho. Quando nos zangamos, um com o outro, costumamos dizer que é um bichinho zumbindo quando um fala qualquer coisa.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Adivinhe!


O que é? O que é?
Você vai adivinhar?

No início, são ovinhos,
depois, pequenas larvas.
Casulos, transformadinhos,
Besouros saem das cavas.

São marrons ou amarelos,
vermelhos, alaranjados.
Têm pontos pretos ou brancos
Por todo o corpo pintados.

Duas asas pra subir,
Seis patas d'habilidade.
Antenas vão garantir
cheiro, sabor, novidade.

Dizem que dão boa sorte,
Que também trazem fartura.
É certo, são importantes
Para a agricultura.

E o que é? O que é?
Você tem que responder!


Se não pôde adivinhar,
outras dicas não te dou.
Cansada de te esperar,
Joaninha voou!! Voou!!


Por Luzia, poesia e ilustração


18/01/10. Ao escrever essa poesia, a minha intenção inicial era não revelar o sujeito da história, de forma que a última estrofe ficaria assim:
 "Se não pôde adivinhar,
outra dica eu não te dou.
Cansada de te esperar,
a que estava aqui, voou!!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Grito contido




Eu queria falar, com nostalgia,
de minha infância inocente,
quando, aos pulos da amarelinha,
sorrindo, eu corria.
Tinha a boneca na mão
e meu irmão rodando pião.

Eu queria falar, com alegria,
do raiar rebelde de minha juventude,
quando o corpo sussurrava ao amor que surgia.
Tinha conversa no portão
e os beijos roubados de supetão.

Eu queria falar das flores sortidas,
pequenas, grandes e perfumadas,
onde bailavam borboletas coloridas.
Tinha abelha e zangão
e outros bailarinos de plantão.

Eu queria recitar poesias de amor
emocionada por sua grandeza,
com rimas levadas libertando fantasias.
Ter estrelas a calar a escuridão
e o luar a viajar na imensidão.

Eu queria tanto dizer doces palavras,
permitir sonhos e esperanças...
Hoje, porém, eu não posso.
Há tantas almas perdidas na multidão,
tantas outras mutiladas pela solidão.

Eu não queria falar de mortes,
mas foram silenciados os  gritos em luto no Haiti.
São raras e caras as vidas perdidas por lá.
Altos são os juros das tantas somadas além.
Têm ainda os dividendos das que ficam neste, que é aqui.

Eu não queria falar, mas não calam poetas
noites que choram trevas marcadas por dor.
Gritam Chico, Manuel, Cecília, Dias...
- Esconda-se povo, desse insaciável devorador!

Eu ainda queria as mais belas e puras figuras trazer.
Se fosse artesã ligeira, estrofes inteiras, eu poderia tecer.
Rápida e voraz, porém, é a caçadora,
e escondê-la o poema não permitiria.
Predadora é a fome que mata e mata mais
do que qualquer estranha força mataria.



 















Poema publicado no meu livro 



18/01/10 Também pensei em dar outro sentido aos dois primeiros versos da 4ª estrofes, assim:
...

"Eu queria recitar poesias de amor,
emocionando por sua própria grandeza,"
... 

Acho, contudo, que as duas formas ficaram interessantes, tanto as dessa estrofe, quanto da última.


17/01/10 - Ontem, fiz pequenas alterações nos dois últimos versos da última estrofe, que originalmente fora por mim escrita assim:
...

"É a fome que mata,
e mata mais do que qualquer estranha força ousaria."

Tratando-se, contudo, de um ensaio e, portanto, sujeito à modificação, considerei importante apontar a fome como predadora, e, por fim, achei que ficaria melhor reafirmar, ao final, que ela mata.

Também modifiquei 

A primeira versão dessa poesia pode ser encontrada também em artigos, no site  http://www.hgb.rj.saude.gov.br


31/01/2010 - Publiquei essa poesia também em http://sitedepoesias.com.br/poesias/53730 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Brasileirinhos





Criança na rua
com cola reflete
a fria e dura
vida de pivete.

Criança que gruda
no corpo da gente,
cala com a bala
no dente, do pente.

Criança que grita
no sol e na chuva,
pula e dá banda,
nos carros da curva!

Criança que sonha
ter a vida em cor,
na pedra, a sanha
da fome, o pavor.

Por Luzia


Pois é, eu estava voltando do shopping e lá estavam ... Crianças, apenas crianças. 
12/01/10. Após editar  esse ensaio com o título "São crianças!!!!", fiquei a pensar na primeira estrofe:
"Criança na rua
vendendo chiclete! 
Isso lá é vida,
brincar de pivete?"
Trabalho infantil não é brincadeira, tem consequências e devem ser tratadas de outra forma, sem dúvidas, com políticas públicas, mas porque não também com versos que traduzam melhor a labuta, a dor e o sofrimento, presentes na situação de rua, que é um dos efeitos da miséria?
Situação de rua, violência, droga, protituição e trabalho infnatil se misturam, seja na venda de balas, chicletes, no trabalho de flanelinhas, ou mesmo nas atividades mais subterrâneas. Daí, achei melhor mudar o título e alguns dos versos.




sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Deus



 Deus
é poder, é criação
para os que fazem, para os que gritam,
como vulcão em erupção.


Deus
é a morte, também é a vida,
daqueles que pedem, e dos que podem
acabar com a fome produzida.


Deus
é lua crescente, é sol poente.
Poucos dizem que o sentem
mas é Ele, e é o presente.


Deus
é luz, também é breu
onde muitos escondem
a mão que não se estendeu.


Deus
é a música, é a poesia
que também permite rimas
com hipocrisia.


Deus
é você, e também sou eu.
É o que nega, é o que prega
que é amor o que Ele nos deu.


Por Luzia



 Foto: Luzia M. Cardoso.  Edição de foto: P. L. C. de Souza
Janeiro, 2010


Falar de Deus não visa pregar nenhuma religião, pois acredito que todas possibilitam aprendizados, e cada uma tem linguagem própria e que permite o acesso a pessoas diferentes. Mas fico pensando no que representa aguardar  um futuro, talvez distante demais, ou esperar que venha alguém especial para levar-nos a viver em um mundo melhor. Prefiro pensar na viabilidade das transformações em nossas mãos, agora e já, no tempo presente, pois o futuro é o resultado do legado que deixamos hoje.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O visitante




Tic-tac,
Dou bom dia!
Tic-tac,
Já é hora.
 
Tic-tac,
Eu cheguei!
Tic-tac, 
Vou embora.


Por Luzia M. Cardoso

Poesia e ilustração.


Um dia ouvi alguém dizer que a boa visita é aquela que marca a hora de chegar e sabe a hora de se despedir. Eu não concordava muito com isso. Hoje, já em outro momento, percebo que gostamos de ficar ensimesmados, e esses momentos só podem ser curtidos em privacidade.


A roda II

A roda roda,
é roda-viva.
No mesmo eixo,
a roda gira.

Vira o mundo,
em tempestade.
E tudo vira
dificuldade.

A roda roda,
é roda-viva.
No mesmo eixo,
a roda gira.

Tira vidas,
calamidade.
Vidas nascem,
fertilidade.

A roda roda,
é roda-viva.
No mesmo eixo,
a roda gira.

Traz afetos,
novidade.
Se outros partem,
realidade.

A roda roda,
é roda-viva.
No mesmo eixo,
a roda gira.

A roda-viva
vira moda.
Tenho a vida
nessa roda.

A roda roda,
é roda-viva.
No mesmo eixo,
a roda gira.



Por Luzia
Penso que a roda de nossas vidas também pode ser vista de várias formas.
Obs: Em 11/01/10 fiz pequenas alterações para melhorar a métrica.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A roda

A roda gira,
vira mundo.
A roda roda,
tudo gira.

A roda gira,
gira o mundo.
O mundo gira,
cria vida.

A roda gira,
roda-viva.
A vida roda,
tudo muda.

A roda gira,
a vida roda.
o mundo vira,
toda vida.

A roda gira,
viva a roda!
A vida roda,
tudo vira.


Por Luzia

Essa poesia sofreu algumas modificações, desde sua edição nessa página.Tentei dar um sentido melhor.Sua primeira versão
foi escrita no dia 06/01/2009, após eu  saber de uma situação que chegou, foi e voltou aos mesmos lugares e, por fim, foi para sempre. Talvez, esse fato represente também a vida da gente.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Eu, você e todos nós


Primeiros passos,
Descoberta, euforia.
Tropeços, cautela, correria...

Novos passos,
Minha vida que traço...

Caio e levanto...
Prossigo com o corpo já marcado
Por todos os passos já dados.

Passos...
                   Passos...
                                  Passos...
                                             Passos...

Só,

Meus 
Passos.

Só,
Meus passos,
sós.

Quero novos passos!
Quero outros passos
Com os meus passos.

Atenção aos passos ouvidos!
Eis o som
No meu compasso!


Passos... 
                         Passos...

          Passos... 
                               Passos...
                     
                          Passos... 
                                       Passos...


Continuamos no caminho...
Nós, nossos passos,
Um só compasso.

A estrada é longa...
Surgem pedras,
Surgem muros.
Tem as cercas e buracos...
Tem tropeços... Quedas...
Pegas...

Descompasso...
Passos...
Não posso...
Eu passo...
Repasso...
Repassa...
Traços...

Passos...
              Passos...

Sós.

Passos, somente.
Novamente,
Só 
Meus passos.

Agora digo:
- Meus passos, meu espaço...
Eu... Meu.

Mas alguém ouve os meus passos,
não dá trela para o espaço,
e acompanha meu compasso.

-E o receio desses novos passos passarem?

Desarmonia... 

Isso arranha a melodia.

Os passos insistem...
Passos ligeiros...
Emparelham...

Passos... 
                        Passos...
Passos... 
                           Passos...
Passos... 
                         Passos... 
Passos... 
                        Passos...

Passos receosos, os meus.
Atraso? Enfrento? Retorno?

Passos... 
                        Passos...
Passos... 
           Passos...

Passos...
                            Passos... 
Passos...
             Passos...

Persistem! 
                       Encostam!

Eu já quero esses passos.

- E as marcas dos outros passos?

Não quero mais as marcas...
Quero os passos...
Esses passos, no mesmo espaço...
Os nossos passos...
Por Luzia



Esta é mais uma de minhas reflexões, também escrita nos anos 90.

Em terapia


Você explora,
consciente,
corpomente.

Você percebe, conhece
pessoal 
                      mente.

Numa relação profissional
uni 
               lateral.

Você ajuda no des cobrir-se,
no permitir-se,
no sentir-se...

Como?

Você faz, mexe, pega, ouve e diz:

- Sente!

O quê?

A unilateralidade da real
                                                ação?

E o eu

reprimidodeprimidocomprimido

Inter 
            roga

Droga!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

E paga...
E chora...
E fala.

E é pego, mexido, ouvido, ensinado, questionado...

Na horizontalidade da

r
e
a
l
a
ç
ã
o
?!


Por Luzia


Essa poesia foi uma catarse. Também escrita nos anos 80. Época de conflitos, externos, internos.
Fazer terapia era tudo de "in" e, para os mais ousados, a terapia reichiana era estar "linkado" ao corpo que fala.

Ser

Sentindo...
Indo...

No tempo...
No vento...
Não lembro.

Só.

Na imensidão do mundo.

Só.

No meio da multidão
que reza,
em guerra,
com fome.

Começam as contrações

de um parto.

Parto de nós.

Sós.

Parto em solidão.


Por Luzia (poesia, ilustração e edição).



 
Essa poesia foi escrita por mim na década de 80. O país vivia a transição democrática e, no plano internacional, ainda havia muitos conflitos.
É verdade que nascemos sós, dormimos sós e morreremos também sós. São momentos de cada um e, apesar das companhias, esses momentos são solitários. Contudo, não há a necessidade da ganância, que gera a fome e também a guerra. Esse tipo de solidão, somos nós que fabricamos.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Mensagem à Maria

 
Mãe Maria,
no alto daquele dia,
na favela, tiroteios e correria.
Seu ventre doía, sofria Maria.

Maria mãe ganhava dois, três reais por dia.
Alimentar muitos filhos?
Não, não podia.

Mãe Maria,
lua cheia trabalhava na faxina, na diária...
Muita correria na labuta de Maria.

Maria mãe, mulher solitária trabalhou...
Lutou pelo pão
de cada duro dia-de-Maria.

Mãe Maria,
mulher negra, pobre, grávida
Com mais uma Maria?
Não, não devia?!

Maria mãe nas ruas, nas estradas,
nenhum hospital se abria ...
Insistia Maria e paria.

Mãe Maria,
de sol-a-sol, em noites sem lua...
Maternidade?
Não, Maria não conseguia.

Maria mãe com alta pressão...
Muita confusão quando ao CTI subia,
minguante Maria.

Mãe Maria,
oxigênio, sangue e choque...
Parava o coração de Maria.

Maria mãe
padeceu à porta de um paraíso,
que nunca existiria.

Mãe Maria,
lua nova nascia...
Naquele mesmo dia,
Mulher preta, pobre e mãe...
Morria Maria.

Por Luzia, Rio de Janeiro, 2008




Essa poesia foi escrita após o atendimento a mais uma mulher que foi a óbito no período da maternidade.
Poesia é uma construção, por isso "Mensagem à Maria" tem diferenças em algumas edições. Foram modificações que fiz, e que podem ser percebidas nas versões disponíveis em http://www.hgb.rj.saude.gov.br/artigos/
e também na janela "Cultural" da  Revista Augustus (www.unisuam.edu.br)Acessar em:
http://www.unisuam.edu.br/augustus/index.php?option=com_content&view=article&id=38:mensagem-a-maria-&catid=23:cultural&Itemid=34

---
Nota de revisão


Há muito não retornava a esse poema. Hoje, ao citá-lo e voltar aqui para compartilhar o link, pus-me à releitura. 

Após fazer uma reflexão crítica sobre a realidade da mulher, em particular da mulher afrodescendente, e das falas hegemônicas que reforçam o preconceito, a discriminação e a dominação, mexi no 15º verso. Assim, onde antes era "mulata pobre, grávida", após a minha revisão crítica, ficou "mulher negra, pobre, grávida"

A revisão crítica se fez necessária visto que, embora no passado a palavra mulata\o fosse usada em referência a pessoas de origem familiar europeia e africana, ao longo do processo histórico brasileiro o termo adquiriu uma forte carga erótica, além de haver crítica acerca de sua conotação  pejorativa. 

Espero poder sempre me autocriticar e me transformar, para, assim, ajudar a construir um mundo melhor, sem preconceitos, sem discriminações, sem exclusões e sem nenhuma forma de dominação.  

RJ, 17\02\2022.

 

Poema selecionado para "Versos para Maria", CBJE, edição 2011



Ao meu pai

Usam os nossos braços,
dilapidam a nossa saúde,
matam a nossa prole
e enriquecem sob os nossos olhos.

Chamam-nos de operários, camponeses,
funcionários, camelôs, domésticas ...
e encarceram a nossa vida.

Decidem a nossa sorte,
progridem às nossas custas,
negociam nossos esforços
e elegem-se com os nossos votos.

Mas estamos despertando!

Apesar das constantes doses de soníferos
administrados pela mídia.

Estamos acordando!

Apesar de sermos constantemente
embalados por canções de ninar
e histórias da carochinha de alguns políticos.

Estamos levantando!

Apesar das dificuldades diárias
em que vivemos

Estamo-nos erguendo!

Com todas as dores, fadigas,
desesperanças e lamentos.

Estamos resistindo!

E quando estivermos plenamente despertos,
reverteremos toda essa história.
Mudaremos os nossos destinos e
decidiremos a nossa sorte.

Nesse dia, enfim,
homenagearemos os nossos mártires
e abraçaremos os nossos filhos
ao hastearmos a bandeira de nossa vitória.

A todos os trabalhadores e,
em especial, ao trabalhador público que foi meu pai,
Rubens F. C.
(1925-1995).



Por Luzia (poesia, ilustração e edição)




(Essa poesia foi escrita no inverno de 1996 e abre a minha tese de mestrado)

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