Poesias e ilustrações: Todos os direitos reservados. Página no Youtube http://www.youtube.com/user/luziamaga
Obra Licenciada por Creative Commos
Aqui trataremos de tudo aquilo que nos emociona.
Espero poder traduzir, em versos e rimas, as expressões da vida com as quais eu tiver contato.
Luzia M.Cardoso
http://twitter.com/#!/luzia48
Direitos autorais registrados na FBN
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
domingo, 25 de setembro de 2011
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Assombração Animal
ASSOMBRAÇÃO
ANIMAL
Sob o sol e sob chuva,
labutavam no sertão
Severino e sua família,
todos com os pés no chão.
Na jornada madrugavam
para garantirem o pão.
Acordavam com o galo
que rouco cocoricava.
(Apesar de ser tão magro,
no terreiro ainda mandava.)
Bebiam café tão ralo
que até a cor assustava.
Severino e Antônia,
junto com os seis
meninos
- Tião, José, Damião
João, Mané, Zé
Timbrino -
iam para a plantação
entoando sacro hino.
Léguas e léguas andavam,
chagas abertas no
chão.
Espinhavam-lhes os
cactos,
que saltavam da
aflição.
E rezando “Ave Maria”,
rogavam por redenção.
A poeira do caminho,
peneirada em cada
rosto,
chamava sombras da
noite,
que grudavam feito
encosto.
- Bom Jesus retire o
cálice
que nos enche de
desgosto!
Avistaram Nicolau
vendo o jegue lá no
fosso,
cercado por urubus,
garantindo o almoço.
Só deixaram, no local,
a carcaça. Puro osso!
Essa triste paisagem
invadiu a região.
Sobre o barro
afogueado,
tem-se uma vida de
cão,
mas há gente que ali
teima,
labutando em comunhão.
Severino e família
sobreviviam de caça.
Camaleão e preá,
buscavam com muita
raça.
Mas a água no açude,
somente em dias de
graça.
Assim, passavam as
manhãs.
Chegando a hora do
almoço,
de joelhos, mãos
unidas,
rezavam o padre nosso.
Na marmita rapadura,
e farelo com sal
grosso.
Novamente pra labuta
com o sol a castigar.
Mais buracos
cutucavam,
tentando algo
encontrar.
E nutriam aquele solo
com o sangue a jorrar.
Lua cheia despontou,
finalizando a jornada.
Outras léguas pro retorno,
e a barriga esvaziada.
Os ombros muito
envergados
e a cabeça arriada.
Era noite sem
estrelas,
uma coisa esquisita...
Na caatinga o silêncio
diz que algo
premedita.
E logo, um uivo
medonho,
de coisa muito maldita.
Damião fechou os olhos,
Zé Timbrino arregalou
e João tentou correr,
mas o irmão não
deixou.
José já ficou cismado
quando Tião se
agachou.
Severino, cabra macho,
pôs-se logo a procurar
pelo tal desaforado
que foi lá pra
assombrar.
Antônia pegou os
filhos,
tentando tudo acalmar.
O pai, com muito
cuidado,
acompanhou o assobio.
O som alto, muito
fino,
provocava arrepio.
Um bicho pulou de um
galho
pr'outro que estava
vazio.
Todos os meninos tremeram,
olhando o bicho de
esguelho.
Criatura esquisita
mastigava escaravelho.
Tinha orelhas pontiagudas,
e um focinho vermelho.
Frente a frente à
criatura,
Severino não medrou.
Puxou logo a peixeira,
com o animal se
atracou.
Rolaram de um canto a
outro,
a briga logo
esquentou.
Quando a coisa abria a
boca,
o chão dava de tremer.
Pelas ventas muito
fogo,
algo de surpreender.
Com as garras afiadas
queria tudo abater.
Severino deu um salto
e montou logo na fera.
Segurando no pescoço,
foi partindo para a
vera.
A família ajudou.
Lá, a união impera!
Era tanta da fumaça
que a noite se
assustou,
virando-se do avesso,
logo a Lua enrolou.
Mas coitadas das
estrelas,
uma a uma despencou.
Foi tamanha a confusão
que o bicho
desmoronou.
Ser estranho como
aquele,
ninguém nunca
encontrou.
Depois de passado o
susto,
uma luz ali chegou.
Antônia pôs-se a pedir
que agissem com muita
pressa.
Severino alto pensava,
fervilhando a cabeça.
Com um galho,
desenhava,
por estranho que
pareça.
Um plano logo surgiu.
Precisavam executar.
Cada um pegou sua faca
e uma pedra pra afiar,
com os fios
diferentes,
para furar e cortar.
Montaram todos na fera
antes de ela acordar.
Severino, com um
golpe,
atingiu a jugular,
e com a ponta do
facão,
fez muito sangue
jorrar.
Com o animal abatido,
parte a parte
retiraram.
Orelha, focinho, pés,
nas tripas tudo
ensacaram.
Membro a membro, órgão
a órgão,
e a fera
esquartejaram.
Cada um pegou seu
fardo,
pra arrastar até em
casa.
Apesar de muito peso,
a esperança criou asa.
No caminho cantoria
e o coração feito
brasa.
Ao chegaram ao vilarejo,
muita gente se juntou.
Todos queriam saber
o que por lá se
passou.
E ao contarem a
história,
todo o povo se
assustou.
Trabalhando em mutirão,
toda a carne foi
cortada,
salgando ambos os
lados
e afastando a
cachorrada.
E à sombra, num varal,
peça a peça pendurada.
Fizeram muita linguiça;
roupas com couro
curtido.
Como os dentes eram
grandes,
puderam ser esculpidos.
Muitos objetos d’artes
foram também
produzidos.
Essa fera alimentou
o povo da região.
Tempos melhores
chegaram,
ali naquele torrão.
Sete anos de fartura,
às custas da assombração.
Sertanejo é cabra macho,
mata a cobra e mostra
o pau.
Dia-a-dia frente à
morte,
luta contra todo mal.
Assombração é
pintinho,
quando a fome é
animal.
Essa história é
verdadeira!
As provas encontrará
nas bandas de Canindé,
no sertão do Ceará.
E dizem que muita fera
com medo foi pro Pará.
Luzia M. Cardoso - sob heterônimo Tonha dos Cafundó
domingo, 11 de setembro de 2011
TEMPO
Meu relógio marcava solidão.
Pisando pesados passos,
descompassava o coração.
E as batidas das horas sofridas,
lamentos agudos de meu ser,
revelavam pensamentos sombrios,
no breu dos cantos de meu querer.
Sou impaciente, confesso,
mas, como ficar sem ter você?
Essas horas não passam...
São minutos, milésimos de segundos
eternos...
E os ponteiros me levam
ao inferno.
sábado, 10 de setembro de 2011
Epicentro
Sou teu incenso, nesse amor insano.
Sou tua chama, a vela do centro,
a que concentra o sacro e o profano.
Eu sou também a lua, quando encontro
no teu sorriso os raios que emano.
Sou tua chama, a vela do centro,
a que concentra o sacro e o profano.
Sou teu tempero, pimenta e coentro;
queijo e vinho no frio da Serra.
Aqui na Terra, sou teu epicentro,
teu equilíbrio quando a noite encerra.
Em tua cama, no teu quarto adentro.
30 de Junho de 2010
Cordel - Dueto Luzia e Odir
Samué qui mi contô
Padim Cíceru qui acodi.
Mané, cabra orgulhosu,
ficô muitu aperriadu
ao lê, du amigu safadu,
u cordé injuriosu.
Mané num era di briga,
tumbém num ingolia sapu,
nem perdia rapariga.
U curação im farrapu
cum casóriu di Ritinha
ardia na ladainha
di língua feita di trapu.
Mané intão resulveu
ir ver a coisa di pertu,
tumbém u amô qui perdeu.
Pegô seu burricu ispertu,
i uma jumenta ligera.
Infeitô a bicha intera,
i saiu di peitu abertu.
I seguiu pelu sertão:
Caatinga i muitu sol.
Parecia assumbração,
distuandu do arrebol.
I vencia a distância,
cum tamanha vigilância,
qui dus óios fez farol.
Dias cumendo puera,
im noites di lua cheia
dibaixu da aruera,
a menti inchia di teia.
A boca riscava um risu,
nus óios, brilhu precisu,
denunciava a ideia.
Dudé foi logu murá
prá lá da curva du ventu,
pra Mané num lhe incontrá,
nem mesmu im pensamentu.
I aquela longa viage,
in tão árida paisage,
fez secar seu sufrimentu.
Demuro, mas lá chegô,
no pequenu povuadu.
Por Dudé, já perguntô
a um cabra arruivadu.
U cabra, um alemão,
indicou logu cum a mão,
qui era lá pru outru ladu.
Lá longi, a casa avistô.
Percebia, dentru dela,
u amigu i seu amô.
Esticô sua custela,
amarrô logu u burricu.
Na jumenta, um paparicu:
uma flô, grandi, amarela.
A bicha, já toda prosa,
us dentes brancus mostrô,
ficandu mais qui furmosa.
A crina muito brilhô
sob us raius du luá,
qui a noiti viu chegá,
coisa qui lhi agradô.
Vendu tudu arrumadu,
Mané foi si apresentá.
Dudé ficô assustadu,
Ritinha pôs-se a orá,
mas Mané tudu acarmô,
quandu u presenti intregô,
dizendu ter perduadu.
A jumenta era u presenti
qui Mané deu pru casar.
Mas num atu inconsequenti,
parecendu um animar,
Dudé ficô a pulá,
i a bicha, pôs-se a beijá,
numa paixão mais qui ardenti.
Dudé montô na jumenta,
numa locura arretada
num fogu qui tudu isquenta.
Partiu, sem pensá in nada.
U novo amô foi vivê,
I pra sempri, até murrê,
cum a jumenta adorada.
Ritinha nada intendeu.
Sozinha, pobri coitada!
Mané si cumpadeceu
vendu chorá a amada.
Ofertou seu ombru amigu,
prometeu mais qui abrigu:
ser fier na caminhada.
Viveram amô infinitu.
Tiveram um montão di filhu.
Criaram avi i cabritu,
plantaru roça di milhu.
A casa, tão bem cuidada,
qui na paredi caiada
a lua via seu brilhu.
Nunca mais si viu Dudé,
ninguém viu sua jumenta.
Já Ritinha i Mané
u povu vê i cumprimenta.
Us filhus viram crescê,
netus já têm pra nascê,
pois já passam dus sessenta.
Mané foi u qui ela quis
cum fogu i muita pimenta.
Ritinha foi mais feliz!
É u povu lá qui cumenta.
Venci força di intriga,
venci praga i mandinga,
vão di oito a oitenta.
Cum u sentimentu puru
qui eli sempri alimentô,
Mané fez o seu futuru,
du jeitu qui eli pensô.
É cordé disincantadu
dum casá apaixunadu
qui o própriu amô reinventô.
Com meu carinho, doce poeta Odir.
MENTIRA DISCARADA!
Odir Milanez
Essa istora da jumenta
correu pruqui pru sertão.
Uma muié qui me tenta
iscreveu essa invenção.
Eu deixá minha muié
pur uma égua quaiqué,
é patranhada du cão!
Não mi chamo de Dudé
si né mintira danosa!
Tou pensano mermo inté
cum Mané ter uma prosa.
Padim Ciço, qui diacho!
Eu cum quatro fio macho
mais duas fêmea sestrosa!
Namorá cuma burrica
é soca de satanaz!
Si quem mente o rabo istica,
óia o teu rabo detraz!
Quêra Deus quessa murrinha
num quera ofendê Ritinha,
pois si fizé sou capaz
di dispelá-la todinha
como fosse lobisome,
cortá os peito em fatinha
como bife qui si come,
ritirá da burra a crina
pra tampá sua vagina,
colando coisa de home!
Essa muié qui iscreveu
essa istora qui né minha
i na mentira involveu
a minha muié Ritinha,
dispôs qui passá pru quí
vai é virá travesti
de sutião e calcinha!
I sô subé qui Mané
tá envorvido no assunto,
na pechera eu faço fé
pra cortá o seu presunto.
Adispois dele capado
vou mandá esse sarfado
pra cidade dos pé junto!
Quessa muié tome tento
nas mintira que qué pô,
ou faço o seu casamento
cum jegue reprodutô
qui cum ninguém negucio,
pois cobre as feme no cio
seja du jeito qui fô!
Dando um tiro nesse assunto,
sou casado sim sinhô.
Há vinte ano tô junto
cum Ritinha, meu amô.
Eu me assino por Dudé,
goste de mim quem quisé,
pur mim a istóra acabô!
JPessoa/PB
23.09.2011
oklima
ô