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Aqui trataremos de tudo aquilo que nos emociona.

A vida, em todas as suas formas e manifestações, nos leva a fortes emoções.

Espero poder traduzir, em versos e rimas, as expressões da vida com as quais eu tiver contato.



Luzia M.Cardoso
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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

sábado, 25 de setembro de 2010

A Suburbana





A Suburbana

Fui criada pra casar,
encontrar um bom marido,
bom de cama e destemido,
gostando de trabalhar,
pra família sustentar.
Mas gamei no Zévivido,
paixão forte, sem sentido,
foi um caso sem futuro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.
 

Acontece que emprenhei,
de um homem que ninguém viu.
Foi pra ponte que partiu.
Muito, muito que chorei,
mas sou forte, aguentei.
De um parto mal assistido,
nasceu meu filho querido,
tão pequeno e prematuro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.
 

Tive que me desdobrar.
Aprendi logo um ofício,
evitava o desperdício,
pras contas poder pagar,
também meu filho criar.
Meu patrão foi um bandido.
Pagamento? Esquecido.
Sindicato? Sobre o muro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.

Procurei os meus direitos,
processando o safado.
Um advogado arretado
fez as contas e os acertos,
provando tudo nos autos.
Com cara de boi lambido,
patrão disse ter falido.
Dinheiro? Ainda procuro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.

Resolvi tudo mudar.
Fui vender os meus salgados,
fresquinhos e congelados.
Andei por todo lugar,
com sapatos a apertar.
Fiado, embora insistido,
virava surda d'ouvido.
Cuidando do meu futuro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.
 

O retorno era incerto.
Nos dias de muita venda
achava ter boa renda.
Nos outros, passava aperto,
e penava, a céu aberto.
Via ter tudo perdido
com olhar entristecido,
antevia grande apuro.
Se não tenho o couro duro,
 
não tinha sobrevivido.
 

Uma banca, eu montei,
na calçada da Central.
Movimento sem igual.
Muitos salgados levei.
Contudo, logo lembrei
do “rapa” ter esquecido,
quando eu vi tudo no escuro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.
 

Voltei pra lida que tinha.
Brigando para viver.
Vendo meu filho crescer,
fazendo tudo sozinha,
pra qu'ele andasse na linha.
Dei brinquedo colorido.
Dou carinho merecido.
Mau olhado, esconjuro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.
 

Sou de luta, sou mulher.
Não sou frágil, eu não quebro.
Puxo muito por meu cérebro,
sem deixar nada a fazer.
Se precisar, vou bater.
Cultivo em terreno árido,
pra colher um bem querido.
Assusto medos no escuro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.
 

Tenho, agora, aqui comigo
os frutos por mim colhidos.
Todos eles, merecidos.
Minha casa, meu abrigo;
Filho, netos, que bendigo;
Meu caminho, definido;
amor por mim escolhido.
Estou em porto seguro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.

domingo, 19 de setembro de 2010

Ouves Minhas Mãos?


Ouves minhas mãos?

 
No tempo, aos sons indecodificáveis,
respondo com outros tantos que ecoam.
Sem retorno, eu não tenho nem talvez,
e os fantasmas chegam e me povoam.

Insisto em movimentos de lagoas,
nesse abre e fecha de teus lábios frios,
e engulo as ondas cegas que ressoas.
Tanta insensatez leva ao chão meus brios.

Nas mãos, a esperança vem gritando,
aos olhos que estão prontos pra enxergar
a dor que arde à flor de minha fibra.

Ao rosto, cerro mãos silenciando,
e logo, abro meus dedos devagar.
Abençoo-te, meu irmão surdo à LIBRA.

Por Luzia M. Cardoso

22/09/2010 Poema corrigido.

Imagens: http://www.acessobrasil.org.br/libras Acesso em 19/09/2010
Animação em photoscape



terça-feira, 7 de setembro de 2010

Baião de Dois

Feijão, arroz, queijo coalho e temperos,
juntos, somos como baião de dois
Quando você vem com passos ligeiros,
entrego-me à dança e a você, depois.
 
Na candência de corpos brejeiros,
o sanfoneiro uma pimenta pôs.
Feijão, arroz, queijo coalho e temperos,
juntos, somos como baião de dois.


Terra molhada, corações sinceros
Luar do sertão sorrindo pra mim
Somos caipiras, com olhos matreiros,
que rodam no chão cheirando a capim.
Feijão, arroz, queijo coalho e temperos

Por Luzia

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Si incostá, ixplodi!

Si incostá ixplodi!

 

Ôtonhu Perera, seu moçu
é comu carni di pescoçu
pareci inté jegui  impacadu
cum eli já passu um dubradu
i voltimeia tenhu um troçu 

 

Im toda nossa relação
nós temu muita opinião
É di forma qui u bichu pega
Fogu i pórvora nóis num nega
i ixpludimu mais qui rujão

Quandu um qué i u otru diz não
ou um num dá aquela atenção
Nóis pulamu feitu cabritu
damu ataqui di piriquitu
i é tamanha a cunfusão

A coisa fica é muitu feia
nois dizemu u qui dá na teia
i ficamu muitu amuadu
i cada um vai pru seu ladu
pensanu muita da besteia

Modi, eli diz qui sô valenti
muito pior qui dor di denti
U homi fica é invucadu
Inté qui falu du meu modu
qui num fiquei nada contenti

U qui é pior nessa pendenga
é nóis dois ficarmu mulenga
cum a cabeça aturmentada
É muita lágrima rulada
nu meiu dessa lenga-lenga

Nóis num sabemu, nessa hora,
qui o qui é meior, agora
é nóis ouvi u curação
i mudarmu di pusição
prá num deixá tudu ir imbora

Modi qui é choqui di visão
i mereci muita atenção
pra ninguém ficá machucadu
ou cum us nervus isfrangaiadu
nem aumentarmu essa tensão

O qui mais queru é qui Ôtonhu
num fiqui nunca du tristonhu
Eu gosto tantu dessi moçu
i u seu surriso num tem preçu
seu curação num tem tamanhu

Vô pedi à Virgi Maria
Um pouco mais di carmaria
nessi incontru tão increncadu
modi um casal emocionadu
num mais sufrer nessa agunia

Agora qui vi u cumpassu
num queru mais queda di braçu
Isperu qui meu parceirinhu
pensi cum muitu du carinhu
i venha já mi dá um abraçu.



(Na visão de Rosinha Arueira)

Por Luzia



domingo, 5 de setembro de 2010

A Cigarra e a Formiga

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Muito cantou na primavera,
alardeou todo o verão:
- Nesse calor, ah, quem me dera
nadar nas ondas da paixão! 

Mas diferente da cigarra,
formigas andam pelo chão.
Labutam cedo e com garra,
para estocar a provisão.

Chegou o tempo do inverno
A cigarra, indiferente,
se mantinha nas cantigas.

Fez-se dona do terreno,
s'apropriou do excedente
da  dura lida das formigas.



As formigas não gostaram
do final dessa história,

E, aos poucos, revelaram
o que guardavam na memória:

A cigarra nos explora,
s'apropria desse chão,
Com a sua cantoria,
    desvia a nossa atenção!  

Luzia M. Cardoso


(Versão da fábula atribuída a Esopo, e recontada por La Fontaine. França, 1621-1695)

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