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Aqui trataremos de tudo aquilo que nos emociona.

A vida, em todas as suas formas e manifestações, nos leva a fortes emoções.

Espero poder traduzir, em versos e rimas, as expressões da vida com as quais eu tiver contato.



Luzia M.Cardoso
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sábado, 25 de setembro de 2010

A Suburbana





A Suburbana

Fui criada pra casar,
encontrar um bom marido,
bom de cama e destemido,
gostando de trabalhar,
pra família sustentar.
Mas gamei no Zévivido,
paixão forte, sem sentido,
foi um caso sem futuro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.
 

Acontece que emprenhei,
de um homem que ninguém viu.
Foi pra ponte que partiu.
Muito, muito que chorei,
mas sou forte, aguentei.
De um parto mal assistido,
nasceu meu filho querido,
tão pequeno e prematuro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.
 

Tive que me desdobrar.
Aprendi logo um ofício,
evitava o desperdício,
pras contas poder pagar,
também meu filho criar.
Meu patrão foi um bandido.
Pagamento? Esquecido.
Sindicato? Sobre o muro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.

Procurei os meus direitos,
processando o safado.
Um advogado arretado
fez as contas e os acertos,
provando tudo nos autos.
Com cara de boi lambido,
patrão disse ter falido.
Dinheiro? Ainda procuro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.

Resolvi tudo mudar.
Fui vender os meus salgados,
fresquinhos e congelados.
Andei por todo lugar,
com sapatos a apertar.
Fiado, embora insistido,
virava surda d'ouvido.
Cuidando do meu futuro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.
 

O retorno era incerto.
Nos dias de muita venda
achava ter boa renda.
Nos outros, passava aperto,
e penava, a céu aberto.
Via ter tudo perdido
com olhar entristecido,
antevia grande apuro.
Se não tenho o couro duro,
 
não tinha sobrevivido.
 

Uma banca, eu montei,
na calçada da Central.
Movimento sem igual.
Muitos salgados levei.
Contudo, logo lembrei
do “rapa” ter esquecido,
quando eu vi tudo no escuro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.
 

Voltei pra lida que tinha.
Brigando para viver.
Vendo meu filho crescer,
fazendo tudo sozinha,
pra qu'ele andasse na linha.
Dei brinquedo colorido.
Dou carinho merecido.
Mau olhado, esconjuro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.
 

Sou de luta, sou mulher.
Não sou frágil, eu não quebro.
Puxo muito por meu cérebro,
sem deixar nada a fazer.
Se precisar, vou bater.
Cultivo em terreno árido,
pra colher um bem querido.
Assusto medos no escuro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.
 

Tenho, agora, aqui comigo
os frutos por mim colhidos.
Todos eles, merecidos.
Minha casa, meu abrigo;
Filho, netos, que bendigo;
Meu caminho, definido;
amor por mim escolhido.
Estou em porto seguro.
Se não tenho o couro duro,
não tinha sobrevivido.

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