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Aqui trataremos de tudo aquilo que nos emociona.

A vida, em todas as suas formas e manifestações, nos leva a fortes emoções.

Espero poder traduzir, em versos e rimas, as expressões da vida com as quais eu tiver contato.



Luzia M.Cardoso
http://twitter.com/#!/luzia48

Direitos autorais registrados na FBN

domingo, 3 de janeiro de 2010

Mensagem à Maria

 
Mãe Maria,
no alto daquele dia,
na favela, tiroteios e correria.
Seu ventre doía, sofria Maria.

Maria mãe ganhava dois, três reais por dia.
Alimentar muitos filhos?
Não, não podia.

Mãe Maria,
lua cheia trabalhava na faxina, na diária...
Muita correria na labuta de Maria.

Maria mãe, mulher solitária trabalhou...
Lutou pelo pão
de cada duro dia-de-Maria.

Mãe Maria,
mulher negra, pobre, grávida
Com mais uma Maria?
Não, não devia?!

Maria mãe nas ruas, nas estradas,
nenhum hospital se abria ...
Insistia Maria e paria.

Mãe Maria,
de sol-a-sol, em noites sem lua...
Maternidade?
Não, Maria não conseguia.

Maria mãe com alta pressão...
Muita confusão quando ao CTI subia,
minguante Maria.

Mãe Maria,
oxigênio, sangue e choque...
Parava o coração de Maria.

Maria mãe
padeceu à porta de um paraíso,
que nunca existiria.

Mãe Maria,
lua nova nascia...
Naquele mesmo dia,
Mulher preta, pobre e mãe...
Morria Maria.

Por Luzia, Rio de Janeiro, 2008




Essa poesia foi escrita após o atendimento a mais uma mulher que foi a óbito no período da maternidade.
Poesia é uma construção, por isso "Mensagem à Maria" tem diferenças em algumas edições. Foram modificações que fiz, e que podem ser percebidas nas versões disponíveis em http://www.hgb.rj.saude.gov.br/artigos/
e também na janela "Cultural" da  Revista Augustus (www.unisuam.edu.br)Acessar em:
http://www.unisuam.edu.br/augustus/index.php?option=com_content&view=article&id=38:mensagem-a-maria-&catid=23:cultural&Itemid=34

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Nota de revisão


Há muito não retornava a esse poema. Hoje, ao citá-lo e voltar aqui para compartilhar o link, pus-me à releitura. 

Após fazer uma reflexão crítica sobre a realidade da mulher, em particular da mulher afrodescendente, e das falas hegemônicas que reforçam o preconceito, a discriminação e a dominação, mexi no 15º verso. Assim, onde antes era "mulata pobre, grávida", após a minha revisão crítica, ficou "mulher negra, pobre, grávida"

A revisão crítica se fez necessária visto que, embora no passado a palavra mulata\o fosse usada em referência a pessoas de origem familiar europeia e africana, ao longo do processo histórico brasileiro o termo adquiriu uma forte carga erótica, além de haver crítica acerca de sua conotação  pejorativa. 

Espero poder sempre me autocriticar e me transformar, para, assim, ajudar a construir um mundo melhor, sem preconceitos, sem discriminações, sem exclusões e sem nenhuma forma de dominação.  

RJ, 17\02\2022.

 

Poema selecionado para "Versos para Maria", CBJE, edição 2011



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