Marias Globalizadas
Nem o tempo a detém.
Insiste a morte materna,
Por aqui e mais além.
E na classe subalterna,
A mulher que nada tem,
Passa a vida na labuta.
Dia e noite na luta.
Tinha trinta e cinco anos
Trabalhava em pastoreio
E com gestação de risco
Sem ter hora de recreio,
Seu tempo sob confisco.
Em casa, muito aperreio:
Suportava o mal estar.
E no dia de parir,
Marido longe de casa
E ninguém pra amparar.
A Morte nunca se atrasa,
Tem a fome a lhe lembrar
Para abrir a cova-rasa.
Enquanto a pobre gestante
Suporta a dor que é
constante.
Corre em busca de socorro
Onde fez o pré-natal.
Clínica mal equipada
Pro que é fundamental
A mulher, mal amparada,
Teve um parto fatal.
Jaz
seu corpo em exaustão
Pois parou seu coração
Nenhuma vida suporta
Assistência inadequada
E
cuidado negligente.
A família enlutada
Não encontra quem lh’alente
Ainda mais desamparada
Com a noite a se fechar
E um corpo pra velar.
Sem recursos, sem dinheiro,
Sem tempo pra se cuidar
Direitos reprodutivos
Estão sempre a escapar
As causas e os motivos
Dizem querer encontrar
Sempre tentando esconder
Que’o que concentram faz morrer.
Essa história é da Mongólia,
Ano de dois mil e dois.
Mas aqui ocorre igual.
Ser humano? Pra depois.
Primeiro, o capital,
O Mercado assim impôs.
Às mulheres, mais trabalho
E o mais roto agasalho.
Na Mongólia foi assim,
Pra nutrir o capital.
Desemprego nas cidades,
Penúria n’área rural
Sustentando a opulência
E minando a resistência.
Luzia M. Cardoso
Essa história foi baseada em um caso descrito no artigo de CRAIG
R. JANES e OYUNTSETSEG CHULUUNDORJ (Creg ar jeines e Aiansetseg thiuiunDART),
intitulado “Mercados livres e mães mortas: A Ecologia social da Mortalidade
Materna na Mongólia Pós-Socialista”
Craig JR, Oyuntsetseg C. Free Markets and Dead Mothers: The Social Ecology of Maternal Mortality in Post-Socialist Mongolia. Medical Anthropology Quarterly 2004 jun. [acesso em: 10 mai. 2024]; 18(2): 230–257. Disponível em: https://anthrosource.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1525/maq.2004.18.2.230
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