Maria Gestante
No Sul, Norte e Nordeste,
Sudeste e Centro-Oeste,
A pobreza é sempre igual.
Nela a tragédia investe
Sempre de forma fatal.
Por violência ou por peste,
Quando arrasta o primeiro
Leva muitos pro atoleiro.
Veja a vida de Maria:
Todo dia acorda cedo,
Filhos, casa pra cuidar.
Quebra rochas e rochedo,
Não consegue descansar.
Pro sustento, outro enredo:
O que paga o patrão
Não garante, à mesa, o pão.
Pra ganhar um dinheirinho,
Muito tempo no trajeto,
O restante na jornada.
Nesse tempo abjeto,
Quando a vida lh’é roubada,
Seu mais cruel desafeto
Vai lhe impondo sacrifício
Mascarado em benefício.
Maria está gestante.
Está prestes a parir.
Já fez todo o pré-natal,
Sem o tempo permitir.
Seu parto será normal,
Se a sorte lhe sorrir.
Nesse dia assombrada
Sua hora é chegada.
Entra no tempo da dor,
Recorrendo ao hospital.
Pro médico, dor não basta
Diz que ela é natural.
Mesmo essa que lh’arrasta,
Impiedosa, fatal.
Aprofunda a contração
Sem causar dilatação.
Nessa vida de Maria,
Um Ioiô pro hospital,
Examinam com mais toque.
Entra em confusão mental,
Logo, mais sinais de choque,
E sofrimento fetal.
Emergência, CTI.
Correm daqui para ali.
O tempo, que nunca espera,
Natureza impaciente,
Segue sempre inabalável.
Assistência negligente
É prática inaceitável,
Apesar de recorrente.
Nesse fatídico dia
Morre mais uma Maria.
Luzia M. Cardoso
07\08\2024
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