Atenção! Porta Enperrada
Em quebradas brasileiras,
Marias a esperar
O bebê que leva ao ventre
E que cresce sem parar.
Outros filhos tão com fome,
Ela tem qu'alimentar.
Quando desce a ladeira,
Um busão pra se espremer.
Horas tragadas no rush,
No trajeto a vencer.
Se atrasa, o patrão
Nem tenta compreender.
Gravidez já avançada
Curvando sua coluna
Os pés, já muito inchados,
Piora a situação.
Seus nervos estraçalhados
Mais lh'apertam o coração.
Sente dores pelo corpo,
Latejar toda'a cabeça,
O suor... Um calafrio.
Está cortando'um dobrado!
Se procura um hospital,
Normalizam o agravado:
"Gravidez não é doença.
Sentir dor é natural.
Tome aqui um analgésico.
Vá pra casa e coisa e tal.
Com bebê tá tudo certo.
Seu parto será normal."
Seguem dias nessa cina,
Sempre ouvindo a mesma coisa.
Já não s'aguenta de dor.
Pro doutor é cooisa àtoa.
E quando volta pra casa,
A família s'atordoa.
Co'a cabeça estourando,
Co'a visão muito nublada,
Enjoada, vomitando,
Atravessa a madugada.
O acesso à assistência
Tem a porta emperrada.
Com a vida por um fiio,
Maria, com seu bebê,
Nada mais pode fazer.
A sorte já foi lançada.
Não adianta se benzer
Nessa estrutura travada.
Se'a gente não arrancar
A raiz de todo o mal,
Outras Marias, amanhã,
Sofrerão de forma igual,
Com risco da mesma sina
D'uma gravidez fatal.
Luzia M. Cardoso
#morte materna #mortalidadematerna #direitosreprodutivos
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