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Aqui trataremos de tudo aquilo que nos emociona.

A vida, em todas as suas formas e manifestações, nos leva a fortes emoções.

Espero poder traduzir, em versos e rimas, as expressões da vida com as quais eu tiver contato.



Luzia M.Cardoso
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sábado, 29 de janeiro de 2011

Ausência



Ausência



Eu sinto o outono e chovo, agora,
lágrimas tristes, que logo te imploram
nutrir a flor, com perfumes d'outrora,
que jaz num canto das brumas qu'afloram.

E o vento leste daqueles momentos
traz na saudade esse frio cortante,
que seca as folhas de meus sentimentos,
e mata os sonhos, nesse breve instante.

Doces lembranças das ondas do mar,
brasas ardentes em mantos fundidos
que iam ao céu, em galopes de amar.

Queria ouvir muitos roucos gemidos
abrindo a pauta de minha existência,
mas hoje eu solo apenas ausência.


Luzia M. Cardoso


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Mi diga cumé qui é... (cordel em dialeto caipira)



Mi diga cume qui é ...


Cumpadi, mi diga cá,
cumé qui fais um cordé?
Tô querenu namorá
a fia du nhô José!
Moça fina comu frô,
i doci quinem um mé.

Dizem qui é fácil a cousa,
qui'é só cuntá i rimá.
Candu iscrevu nu papér,
u bichu já vem pegá!
Vixe! Qui situação!
Venha cá mi ajudá!

Queru dizê pra Ritinha
u qui vem nu curação.
Num queru botá na corda,
num gostu dixposição.
I num queru num fulhetu,
carta minha dou na mão.

Manué, fiqui mais carmu,
jacaré num dá no pé!
Conti tudo du teu jeitu,
qui'a prosa nutícia é.
Dispois arrumi u versu
num tamanhu qui ocê qué.

Vali um puema cantadu
comu finadu Ugulinu,
repentista qui murreu
há mais tempu qui'imaginu.
U discursu é populá,
vá cum carma, seu mininu!

Bote causos dessa vida,
ponha amô na mensagi.
Ocê vai fazê bunitu,
já qui'é um dus personagi.
A Ritinha é a prova,
cum pai, ocê interagi.

Cordé é arti du povu,
cunta muita da istóia.
Das cousas daqui da roça,
du qui ficô na memóia.
Ponha lá tua emoção,
i termini cum a glóia.

Cumpadi, já ti'agradeçu,
vô currendu iscrevê!
Minha istória só cumeça,
precisu pagá pra vê.
Si num falar nu casóriu,
pai mi bota pra corrê!

Vô dizê du meu amô,
i cuntá cum emoção.
Falu na frenti du pai,
peçu logu permissão.
Num queru dissi-mi-dissi,
pra num tê difamação.

Ponhu a ropa da missa,
jogu uma água di chêru.
Passu goma nu cabelu,
mi infeitu pur inteiru.
Dô um tratu nu sapatu,
pra num sair um mau cheiru.

Meu cumpadi Manué,
vi lá u pai na quermessi.
É cabra machu'invocadu.
Faci antis uma preci!
Eli vai ti dá uma prensa,
vê si a fia ôce mereci.

Pru cordé sair bunitu,
já ixpõe essi cunflitu
bem nu meiu da históia.
Digue qui ficô aflitu,
apontandu pra saída,
sem tê muitu faniquitu.

Agora, tô indu imbóia.
Tê deseju boa sorti.
Si casá tem intenção,
num isqueça meu cunviti.
Vá'ajuntandu uma pupança
tenhu muitu du apetiti.

Já qui ansim eu aprendi,
eu ansim também ti'insinu.
Passanu di boca'in boca
qui cordé vai ixistinu.
I quem tiver otra forma
seja muito du benvinu.

Por Luzia M. Cardoso
(Sob heterônimo Tonha dos Cafundó)


Ouro Negro




Ouro negro


O suor pingou no chão
temperando todo solo.
Semente vingou na mão
do bebê ainda no colo.

No solo, a haste da cana,
ainda frágil verde broto.
Na face, fúria insana
de quem faz sangrar o corpo.

Fenecia na fazenda,
ao pé da plantação.
Sua história virou lenda,
contada na escuridão.

Mas, teimoso, cresceu forte
no ventre da solidão,
Aos ventos do sul ao norte
e à dor da devastação.

O país republicano
fez a Constituição
cultivando o desengano
na riqueza da nação.

O tempo que tudo muda
disse fim à escravidão?
Liberdade? Não se iluda
com a tal da abolição.

Sem terra, sem teto, homem,
No mercado um novo dono.
Com o tempo, o que tem
É outono em abandono.

Se café foi convertido
no mais puro ouro negro,
Na lage, couro curtido
aos raios do subemprego.

Abriu-se o chão, foi-se o pão.
No horizonte, o calvário.
O azul da amplidão
desbotando no horário.

A luz do ouro brilhou,
fino grão de exportação.
Ao trabalhador restou
a dura vida de cão.

Os frutos, todos vermelhos,
marcam tempo de colheita.
Homens, meninos e velhos
Com a foice à espreita.

O café tomou a mata,
sugando sangue d'artéria.
Aos olhos do burocrata,
a vida nunca é matéria.

Das árvores fez-se líquido
espirrado para fora.
Nosso café foi vendido,
levando a floresta embora.

Luzia M. Cardoso
Poema, foto e edição



Em 11 de agosto, revisando o poema, fiz algumas modificações. Segue o poema original
Ouro negro


O suor pingou no chão
temperando todo solo.
Semente vingou na mão
do bebê ainda no colo.

Abriu a casca do grão
a ponta do verde broto.
Fugiu do homem a razão
ao rasgar tremendo o corpo.

Feneceu lá na fazenda,
era pé da plantação.
Sua história virou lenda,
contada na escuridão.

Como arbustos cresceu forte,
no ventre da solidão.
Os olhos perderam o norte,
na dor da devastação.

O país republicano
fez a Constituição,
também muito desengano
na riqueza da nação.

O tempo que tudo muda
disse fim à escravidão?
Liberdade? Não se iluda
com a tal da abolição.

O mercado expulsou o homem,
de tudo fez-se o dono.
Com o tempo sempre vem
o outono em abandono.

O café foi convertido
no mais puro ouro negro.
Na lage, couro curtido
aos raios do subemprego.

Abriu-se o chão, foi-se o pão,
no horizonte, o calvário.
O azul da amplidão
desbotou-se no horário.

A luz do ouro brilhou,
fino grão de exportação.
Para o peão só restou
a dura vida de cão.

Os frutos todos vermelhos
marcam tempo de colheita.
Homens, meninos e velhos
a foice fica à espreita.

O café tomou a mata,
sugando a seiva da artéria.
Aos olhos do burocrata,
a vida nunca é matéria.

Das árvores fez-se líquido
espirrado para fora.
Nosso café foi vendido,
levando a floresta embora.

Luzia M. Cardoso
Poema, foto e edição
RJ, Janeiro de 2011


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