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Aqui trataremos de tudo aquilo que nos emociona.

A vida, em todas as suas formas e manifestações, nos leva a fortes emoções.

Espero poder traduzir, em versos e rimas, as expressões da vida com as quais eu tiver contato.



Luzia M.Cardoso
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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ouro Negro




Ouro negro


O suor pingou no chão
temperando todo solo.
Semente vingou na mão
do bebê ainda no colo.

No solo, a haste da cana,
ainda frágil verde broto.
Na face, fúria insana
de quem faz sangrar o corpo.

Fenecia na fazenda,
ao pé da plantação.
Sua história virou lenda,
contada na escuridão.

Mas, teimoso, cresceu forte
no ventre da solidão,
Aos ventos do sul ao norte
e à dor da devastação.

O país republicano
fez a Constituição
cultivando o desengano
na riqueza da nação.

O tempo que tudo muda
disse fim à escravidão?
Liberdade? Não se iluda
com a tal da abolição.

Sem terra, sem teto, homem,
No mercado um novo dono.
Com o tempo, o que tem
É outono em abandono.

Se café foi convertido
no mais puro ouro negro,
Na lage, couro curtido
aos raios do subemprego.

Abriu-se o chão, foi-se o pão.
No horizonte, o calvário.
O azul da amplidão
desbotando no horário.

A luz do ouro brilhou,
fino grão de exportação.
Ao trabalhador restou
a dura vida de cão.

Os frutos, todos vermelhos,
marcam tempo de colheita.
Homens, meninos e velhos
Com a foice à espreita.

O café tomou a mata,
sugando sangue d'artéria.
Aos olhos do burocrata,
a vida nunca é matéria.

Das árvores fez-se líquido
espirrado para fora.
Nosso café foi vendido,
levando a floresta embora.

Luzia M. Cardoso
Poema, foto e edição



Em 11 de agosto, revisando o poema, fiz algumas modificações. Segue o poema original
Ouro negro


O suor pingou no chão
temperando todo solo.
Semente vingou na mão
do bebê ainda no colo.

Abriu a casca do grão
a ponta do verde broto.
Fugiu do homem a razão
ao rasgar tremendo o corpo.

Feneceu lá na fazenda,
era pé da plantação.
Sua história virou lenda,
contada na escuridão.

Como arbustos cresceu forte,
no ventre da solidão.
Os olhos perderam o norte,
na dor da devastação.

O país republicano
fez a Constituição,
também muito desengano
na riqueza da nação.

O tempo que tudo muda
disse fim à escravidão?
Liberdade? Não se iluda
com a tal da abolição.

O mercado expulsou o homem,
de tudo fez-se o dono.
Com o tempo sempre vem
o outono em abandono.

O café foi convertido
no mais puro ouro negro.
Na lage, couro curtido
aos raios do subemprego.

Abriu-se o chão, foi-se o pão,
no horizonte, o calvário.
O azul da amplidão
desbotou-se no horário.

A luz do ouro brilhou,
fino grão de exportação.
Para o peão só restou
a dura vida de cão.

Os frutos todos vermelhos
marcam tempo de colheita.
Homens, meninos e velhos
a foice fica à espreita.

O café tomou a mata,
sugando a seiva da artéria.
Aos olhos do burocrata,
a vida nunca é matéria.

Das árvores fez-se líquido
espirrado para fora.
Nosso café foi vendido,
levando a floresta embora.

Luzia M. Cardoso
Poema, foto e edição
RJ, Janeiro de 2011


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