Ouro negro
O suor pingou no
chão
temperando todo solo.
Semente vingou na mão
do bebê ainda no
colo.
No solo, a haste da cana,
ainda frágil verde
broto.
Na face, fúria insana
de quem faz sangrar o
corpo.
Fenecia na fazenda,
ao pé da plantação.
Sua história
virou lenda,
contada na escuridão.
Mas, teimoso, cresceu forte
no ventre da solidão,
Aos ventos do sul ao norte
e à dor da devastação.
O país
republicano
fez a Constituição
cultivando o desengano
na riqueza da nação.
O tempo que tudo
muda
disse fim à
escravidão?
Liberdade? Não
se iluda
com a tal da abolição.
Sem terra, sem teto, homem,
No mercado um novo dono.
Com o tempo, o que tem
É outono em abandono.
Se café foi
convertido
no mais puro ouro
negro,
Na lage, couro curtido
aos raios do
subemprego.
Abriu-se o chão,
foi-se o pão.
No horizonte, o
calvário.
O azul da amplidão
desbotando no
horário.
A luz do ouro
brilhou,
fino grão de
exportação.
Ao trabalhador restou
a dura vida de cão.
Os frutos, todos
vermelhos,
marcam tempo de
colheita.
Homens, meninos e
velhos
Com a foice à
espreita.
O café
tomou a mata,
sugando sangue d'artéria.
Aos olhos do burocrata,
a vida nunca é
matéria.
Das árvores
fez-se líquido
espirrado para fora.
Nosso café foi
vendido,
levando a floresta
embora.
Luzia M. Cardoso
Poema, foto e edição
Ouro negro
O suor pingou no chão
temperando todo solo.
Semente vingou na mão
do bebê ainda no colo.
Abriu a casca do grão
a ponta do verde broto.
Fugiu do homem a razão
ao rasgar tremendo o corpo.
Feneceu lá na fazenda,
era pé da plantação.
Sua história virou lenda,
contada na escuridão.
Como arbustos cresceu forte,
no ventre da solidão.
Os olhos perderam o norte,
na dor da devastação.
O país republicano
fez a Constituição,
também muito desengano
na riqueza da nação.
O tempo que tudo muda
disse fim à escravidão?
Liberdade? Não se iluda
com a tal da abolição.
O mercado expulsou o homem,
de tudo fez-se o dono.
Com o tempo sempre vem
o outono em abandono.
O café foi convertido
no mais puro ouro negro.
Na lage, couro curtido
aos raios do subemprego.
Abriu-se o chão, foi-se o pão,
no horizonte, o calvário.
O azul da amplidão
desbotou-se no horário.
A luz do ouro brilhou,
fino grão de exportação.
Para o peão só restou
a dura vida de cão.
Os frutos todos vermelhos
marcam tempo de colheita.
Homens, meninos e velhos
a foice fica à espreita.
O café tomou a mata,
sugando a seiva da artéria.
Aos olhos do burocrata,
a vida nunca é matéria.
Das árvores fez-se líquido
espirrado para fora.
Nosso café foi vendido,
levando a floresta embora.
Luzia M. Cardoso
Poema, foto e edição
RJ, Janeiro de 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário