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Aqui trataremos de tudo aquilo que nos emociona.

A vida, em todas as suas formas e manifestações, nos leva a fortes emoções.

Espero poder traduzir, em versos e rimas, as expressões da vida com as quais eu tiver contato.



Luzia M.Cardoso
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terça-feira, 27 de agosto de 2024

Marias Globalizadas - Cordel






 

Marias Globalizadas

 

 Atravessa oceanos,

Nem o tempo a detém.

Insiste a morte materna,

Por aqui e mais além.

E na classe subalterna,

A mulher que nada tem,

Passa a vida na labuta.

Dia e noite na luta.

 

Tinha trinta e cinco anos

Trabalhava em pastoreio

E com gestação de risco

Sem ter hora de recreio,

Seu tempo sob confisco.

Em casa, muito aperreio:

Suportava o mal estar.

 

 E no dia de parir,

Marido longe de casa

E ninguém pra amparar.

A Morte nunca se atrasa,

Tem a fome a lhe lembrar

Para abrir a cova-rasa.

Enquanto a pobre gestante

Suporta a dor que é constante.

 

Corre em busca de socorro

Onde fez o pré-natal.

Clínica mal equipada

Pro que é fundamental

A mulher, mal amparada,

Teve um parto fatal.

Jaz seu corpo em exaustão

Pois parou seu coração

 

Nenhuma vida suporta

Assistência inadequada

E cuidado negligente.

A família enlutada

Não encontra quem lh’alente

Ainda mais desamparada

Com a noite a se fechar

E um corpo pra velar.

 

Sem recursos, sem dinheiro,

Sem tempo pra se cuidar

Direitos reprodutivos

Estão sempre a escapar

As causas e os motivos

Dizem querer encontrar

Sempre tentando esconder

Que’o que concentram faz morrer.

 

Essa história é da Mongólia,

Ano de dois mil e dois.

Mas aqui ocorre igual.

Ser humano? Pra depois.

Primeiro, o capital,

O Mercado assim impôs.

Às mulheres, mais trabalho

E o mais roto agasalho.

 

Na Mongólia foi assim,

O Estado liberal
Aumentou desigualdades

Pra nutrir o capital.

Desemprego nas cidades,

Penúria n’área rural

Sustentando a opulência

E minando a resistência.


Luzia M. Cardoso

 

Essa história foi baseada em um caso descrito no artigo de CRAIG R. JANES e OYUNTSETSEG CHULUUNDORJ (Creg ar jeines e Aiansetseg thiuiunDART), intitulado “Mercados livres e mães mortas: A Ecologia social da Mortalidade Materna na Mongólia Pós-Socialista”

Craig JR, Oyuntsetseg C. Free Markets and Dead Mothers: The Social Ecology of Maternal Mortality in Post-Socialist Mongolia. Medical Anthropology Quarterly 2004 jun. [acesso em: 10 mai. 2024]; 18(2): 230–257. Disponível em: https://anthrosource.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1525/maq.2004.18.2.230 


#morte materna #mortalidadematerna #direitosreprodutivos




 

Scott Enfezado - triolé






 

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Maria Gestante - Cordel em oitavas


 

Maria Gestante 

 

No Sul, Norte e Nordeste,

Sudeste e Centro-Oeste,

A pobreza é sempre igual.

Nela a tragédia investe

Sempre de forma fatal.

Por violência ou por peste,

Quando arrasta o primeiro

Leva muitos pro atoleiro.

 

Veja a vida de Maria:

Todo dia acorda cedo,

Filhos, casa pra cuidar.

Quebra rochas e rochedo,

Não consegue descansar.

Pro sustento, outro enredo:

O que paga o patrão

Não garante, à mesa, o pão.

 

Pra ganhar um dinheirinho,

Muito tempo no trajeto,

O restante na jornada.

Nesse tempo abjeto,

Quando a vida lh’é roubada,

Seu mais cruel desafeto

Vai lhe impondo sacrifício

Mascarado em benefício.

 

Maria está gestante.

Está prestes a parir.

Já fez todo o pré-natal,

Sem o tempo permitir.

Seu parto será normal,

Se a sorte lhe sorrir.

Nesse dia assombrada

Sua hora é chegada.

 

Entra no tempo da dor,

Recorrendo ao hospital.

Pro médico, dor não basta

Diz que ela é natural.

Mesmo essa que lh’arrasta,

Impiedosa, fatal.

Aprofunda a contração

Sem causar dilatação.

 

Nessa vida de Maria,

Um Ioiô pro hospital,

Examinam com mais toque.

Entra em confusão mental,

Logo, mais sinais de choque,

E sofrimento fetal.

Emergência, CTI.

Correm daqui para ali.

 

O tempo, que nunca espera,

Natureza impaciente,

Segue sempre inabalável.

Assistência negligente

É prática inaceitável,

Apesar de recorrente.

Nesse fatídico dia

Morre mais uma Maria.


Luzia M. Cardoso

07\08\2024


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