"Um país que quer ser grande
tem que proteger quem
não terminou de crescer."
(Programa Nacional de Enfrentamento
da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes)
Pacto do Silêncio
E
no sacrossanto lar
Lá,
na sagrada família,
Que
a menina Cecília
Anda,
aos cantos, a chorar
Pensa,
até em se matar.
Ela
vive atormentada,
Autoestima
rebaixada,
Sem
ninguém pra confiar.
Lá,
entre quatro paredes,
O
silêncio fez-se pacto,
A
cegueira causa impacto.
Grandes
mãos violam redes
E
outros membros... Vós não credes?
Estão
sempre a assombrar,
Não
respeitam seu lugar.
Criam
oportunidades
E
cometem atrocidades
Que
tendem a perdurar.
O
cuidador causa medo
Insistindo’em
lhe tocar
E
seu corpo violar.
Dias,
sóbrio, dias, bêbedo,
Ele
abusa desde cedo,
Muito
antes d’ela andar,
Muito
antes de falar.
Fraldas,
ainda usava,
Já
no berço onde estava,
Grandes
mãos iam assombrar.
Anos
e anos passaram
E
Cecília encolhia,
Sua
face’entristecia.
Móveis
mudos se fecharam,
Corpo
e alma destroçaram,
Lá,
no sacrossanto lar,
Onde
as sombras vão reinar.
Cecília
vive’em perigo,
Pensa
qu’aquilo é castigo,
Que
não há como’evitar
Para
a mãe já quis contar,
Ele logo ameaçou,
Mais
violento ficou,
Dizendo
qu’ia matar
Qu’ela
tinha qu’aceitar.
E
xinga de vagabunda,
Diz
qu’é menina imunda,
Que
tem que se sujeitar.
Ela
vive a sufocar
Na
tristeza em que afunda.
Certo
dia, na escola,
Ela
ouviu, numa lição,
Que
podia dizer “Não”.
Qu’o
corpo não se viola,
Que
criança não s’isola.
E
que, se assim for feito,
A
justiça dá um jeito,
De
que tudo tenha um fim.
Chamando
o ente ruim
Pra
corrigir o sujeito.
E
Cecília, confiante,
Foi
falar à professora
Sobre
os dias qu’a apavora.
Ouvindo
da estudante
O
fato tão humilhante
Resolveu
que ia acionar
O
Conselho Tutelar.
Conselheiro,
prontamente,
Pegou
o caso de frente,
Se
pôs a investigar.
Foi
à casa de Cecília
Ouvir
cada responsável
Sobre
o inaceitável.
E
ouviu toda a família,
Inclusive, a Cecília.
Pediu
avaliação
E
de multiprofissão.
E,
assim, se constatou
O
horror qu’ela passou
Nos
anos de solidão.
Afastou
o agressor
Promovendo
a proteção
De
Cecília e do irmão.
Com
juiz e promotor,
Para
o réu, o defensor,
Coibindo
o abuso.
Criança
não é pra uso,
Nem
pra satisfazer tara,
Conforme
se comprovara
No que estava escuso.
Mas
um dia, certa gente
Resolveu
tudo mudar
E
professores calar,
Apresentando,
urgente,
Uma
norma’inconsequente.
Dizendo
ser deletéria
O
que tratava a matéria.
Inventaram
kit gay.
Alguém
viu? Eu indaguei.
A
nota não era séria.
Mas
o estrago foi feito:
Professores
com mordaça
E
criança em desgraça,
Para
grupo satisfeito
Com
o que havia feito.
Cecília,
Ana, João,
Mariana
e o irmão,
Mais
crianças inocentes
E
também adolescentes
Sob
tal aberração.
S’escola
não informar
Sobre
o corpo, sua função,
Não
disser que há sanção
Para
quem vir maltratar,
Da
infância abusar,
Outras
serão violadas
E,
também, assassinadas,
Lá,
no sacrossanto lar.
Pois
quem devia cuidar
Impõe
que fiquem caladas.
Luzia Magalhães Cardoso
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