POR METRO
Sou pedreiro, faço pontes,
Faço prédio, faço estradas
E também faço o mirante,
Como faço a sacada
Onde prendo aquela rede
Que te guarda, na jornada,
Quando miras o horizonte.
Sou pedreiro e me apronto
Para toda e qualquer obra.
Do que faço, eu me orgulho:
Troco piso do banheiro,
Sala, quarto e cozinha.
Sou quem ergue as paredes
Pondo vigas e tijolos.
Bato lajes, boto telhas,
Faço escadas e muito mais.
Nesse mundo de meu Deus,
Devo ser seu assistente.
Se tens casa para erguer,
Uma para consertar,
Podes, pois, me contratar.
Hoje, agora, ou logo mais,
Amanhã ou outro dia.
Deixarei meu telefone,
Assim podes me chamar.
Onde estou, tem outros mais.
Somos muitos, muitos, tantos.
Há ferreiros, há pintores,
Marceneiros, armadores,
Serventes, encanadores,
Eletricistas e bombeiros,
Cozinheiras, confeiteiras,
Há babás e faxineiras,
Lavadeiras, costureiras,
Sapateiros, artesãos...
Do trabalho, o que pensares,
Tu encontrarás por lá.
Onde estou, tem outros mais.
Outros tantos pés e mãos
Com projetos na cabeça
De ter vida para todos
E que nunca haja fome,
Nem crianças ao relento;
Onde velhos contem histórias
Registradas em memórias;
Onde existam garantias
Do presente à vida afora:
De um futuro sem muros;
Onde todos tenham nome
E um mesmo sobrenome:
Que sejamos os “da Terra”,
Desfrutando dos recursos
Dessa Terra de humanos,
Dessa Terra de mortais.
Onde vivo, vivem mais.
Todos nós, em movimento.
Todos nós, trabalhadores,
Na massa, somos fermento
E a liga mais concreta,
Pois, do chão à construção,
Imprimimos digitais.
Trabalhadores com sonhos,
De esperanças repletos...
Apesar do pesadelo
De ver faltar o provento
Pra pagar o aluguel;
A desapropriação,
Noites de chuva e frio,
Do cacete e do berro,
Dos fantasmas sob a ponte,
Das sombras, dos funerais...
Nós somos trabalhadores
E não somos virtuais:
Sangue corre nas veias,
Suor escorre na pele,
Nosso corpo sofre ao tempo,
Nossas lágrimas são reais,
São reais nossos afetos.
Nós somos trabalhadores,
Trabalhadores Sem Teto.
Luzia M. Cardoso
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