Deformação Trabalhista
Poesia de Cordel
Luzia M. Cardoso
Andam dizendo por aí
Que fazem ouvidos moucos
Quem critica a reforma;
Que trabalho há pra poucos;
Que direito é regalia
E bandeira de loucos.
A reforma trabalhista
Causa um grande furor.
Há aqueles que são contra,
Há os que são a favor.
Dentre estes, quem não sabe
Nem que é trabalhador!
Quem defende a reforma
Acha vantagens em tudo:
Trabalhar por doze horas
Sem ter pausas, o sortudo,
Meia hora pr'almoçar.
Já aponta o sabe-tudo.
Vê, ainda, benefício:
Em vez de hora pro'almoço,
Sair cedo do serviço.
Trabalhador, no caroço,
Sem forças pra contestar,
Mói a carne e rala o osso!
Doze horas de trabalho.
Não precisa relaxar.
Nas trinta e seis faz um curso.
É dia pra estudar!
Dizem que é tempo livre
Pr’ainda mais labutar!
Acham que trabalhador
É máquina de trabalhar.
Trabalha sem sentir dor,
Não tem fome a saciar.
Que agradeça ter na vida
Um patrão pra empregar!
- No descanso, façam bicos
Para aumentar sua renda!
Grita, lá, empresário
- Que, de uma vez, se entenda:
Continua, eloquente:
- A reforma é uma prenda!
- Doze por trinta e seis,
Dizem, - fazem os enfermeiros
Que, também, assim o faça
Maquinistas e pedreiros,
Motoristas, aviadores,
Professores e mineiros.
Do trabalho intermitente,
O que falam os defensores?
Acham tudo muito bom.
Balcão de trabalhadores.
Todos, a disposição,
À mão dos empregadores!
Dizem não terem mexido
Na licença maternidade,
Mas é frágil a resposta
À real viabilidade,
Findo o prazo temporário,
Da curta “estabilidade”.
A não ser que no acordo
Haja cláusula prevendo,
O Seguro da gestante
Acabe acontecendo.
Mas se nada for escrito,
Não há direito valendo.
No trabalho intermitente,
Quem garante a licença
Para que a aquela mãe
Não viva como sentença
O tempo para o bebê
E para a convalescença.
Trabalhar mais cinco horas
Na jornada parcial
Sem haver qualquer acréscimo
No valor salarial?
Quem me aponta uma vantagem
Nessa reforma, afinal!
E mais postos de trabalho,
Como que garantirão?
Comprando trabalhador
Via terceirização,
Qu’oferta mão de obra
Com tão pouca proteção?
Para a aposentadoria,
O aumento da idade
É tremenda covardia:
Criarão inquidade
Empurrando o idoso
Para a competividade
Eles falam em liberdade
Para o mercado ampliar.
Pedem o nosso sacrifício
Para trabalho ofertar
E deixam o empresariado
Com sorriso a escancarar!
Nos acordos trabalhistas,
O patrão tem liberdade
Para redigir o contrato
Conforme a sua vontade.
Deixando o trabalhador
Sujeito à necessidade.
Nunca haverá igualdade
Nessa nova relação:
De um lado, um tem poder
Tem dinheiro, proteção;
Trabalhador, n’outro lado,
Sentindo ruir o chão.
A reforma trabalhista
Não é modernização,
Só garante, em seus artigos,
Os desejos do patrão
Estão dando é outro nome.
Pro retorno à escravidão!
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