FILHA DA LUTA
Quando vim ao mundo, logo chorei.
“Todos nós, também”, talvez ouvirei.
Ah, mas eu sou filha das ruas, tão nuas,
tão cruas!...
Pai, nunca vi!
Mãe, anda por aí…
Em noites sombrias, cresci e vivi…
Fui cuspida,
lambida,
currada…
Tantas bofetadas!...
Sou ser da estrada,
feito alma penada…
No meu corpo?
Espermas
de tantos palermas!
Valendo uns trocados
minguados,
suados, rasgados…
Todos querem prazeres
da droga
que cheiro,
que cheiram,
que fumo,
que fumam,
que oro
e me imploram.
E quando os olho,
não me olham na cara.
Pagam a puta,
iludem a santa.
Comem o objeto,
dejeto
fétido…
No fim,
saem satisfeitos.
E eu
cumpri meu dever.
Volto pra casa,
me jogo na cama,
viro para o lado
e choro.
No berço, um filho;
ao lado, um outro.
Filha da luta,
sobrevivo…
Virei prostituta.
Luzia M. Cardoso
(Do livro "Engajou-me a Poesia. (Ilustrado e ampliado). Rio de Janeiro: EPublique, 2011)
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