Recorrente e fatal
Gestantes pobres e negras
Vivem parto assombrado
Por violência obstétrica:
Sofrimento ignorado,
Queixas mal avaliadas,
Hospital mal equipado.
Outro óbito evitável
Entrou para as estatísticas.
Tendo a morte materna
Causas, características
Recorrentes no país:
Pouco acesso e más práticas
E naquela sexta-feira,
Na Bahia, Salvador,
29 de novembro.
Outro dia de horror
Nesse imenso Brasil
Onde há tanto pranto e dor.
Primípara, vinte e dois,
Hipertensão gestacional,
Com feto grande demais
Vistos já no pré-natal.
Parto de muito risco
Pela via vaginal.
Cesariana indicada
Por uma questão vital.
Quando foi ter o bebê,
Numa decisão fatal,
A equipe de plantão
Induziu parto “normal”
Foram vinte e oito horas
De sofrimento abissal
Em um trabalho de parto
Mais que antinatural.
Daquele parto induzido
Fez-se processo letal.
Se em todo o pré-natal
O risco foi confirmado
A cirurgia indicada,
O processo de cuidado
Deveria, então, fluir
Pro que fora orientado.
Morreram mãe e bebê
Que podiam ter vivido.
Com horas de sofrimento
Em processo irrefletido
Nunca é fatalidade
Quando o risco é sabido.
O que ocorre na assistência?
Há um traço cultural,
Falha a comunicação,
Tem racismo estrutural,
Frágil qualificação,
Poder individual.
Onde está a equidade
No processo de cuidado
Das gestantes brasileiras?
Nesse SUS fragilizado
Vamos vendo seus pilares
Vergar por eixo quebrado
Luzia M. Cardoso
RJ, 09 dez. 2024
Outro caso de morte materna, provavelmente evitável.
Ver reportagem em https://www.correio24horas.com.br/minha-bahia/gravida-e-bebe-morrem-apos-mais-de-24h-de-espera-por-cesariana-em-maternidade-de-salvador-1224
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