Vinte e um mil, cento e setenta luas
Vinte e um mil, cento e setenta luas,
Às vezes, galopando um furacão.
Em outras, acolhida pelas nuvens,
Sentindo transbordar meu coração.
Muitos dias inteiros, forasteiros,
Não queriam ficar em minhas mãos,
E outros, borboletas coloridas,
Pousando, revelavam os meus irmãos...
Vinte e um mil, cento e setenta luas
Turrona, a primavera quis sonhar.
E se sonhos subiam ao espaço,
O vento se apressava em derrubar.
No verão, com o sol ao meio dia,
Meu sangue sempre prestes a ferver,
O suor a rasgar meu corpo inteiro
Nas horas que eu tinha que fazer.
E nessa roda, tão desenfreada,
A esperança, com sementes, vem me ver
S’achegando, meu peito transbordante,
Planta um grão qu’ali, vive a crescer.
No outono, o sol batendo pino,
Rareando, nas curvas, mais o ar,
Meus olhos, co’a neblina que caía,
Se dispunham às trevas encarar.
Vinte e um mil, cento e setenta luas,
À porta, inverno quer entrar.
Há neve a salpicando a cabeleira,
Aquela, na infância, a ondular...
Agora, os resmungos do relógio
Mais ecoam no aro a me apertar.
No impulso do salto dos minutos
Eu abro as asas, pronta, vou voar.
Luzia M. Cardoso
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